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Ambição (向上心 e 野心)

Em português, uma palavra que desperta sentimentos ambíguos, não? Há o sujeito ambicioso, que deseja crescer na vida e há o sujeito igualmente ambicioso, que deseja crescer na vida, mesmo que às custas de outros. Note a expressão: às custas. Parece que nossos lusitanos entendiam mais de economia do que os atuais estudantes brasileiros. Ou será que alguém já se deu conta do significado de benefícios concentrados, custos dispersos implícito na expressão?

Não sei. Mas em japonês, veja só, existem duas palavras para ambição que refletem esta diferença: 向上心 e 野心. A primeira é lida como koujyoushin. A segunda, yashin. Ambas são traduzidas como ambição mas, segundo meu antigo dicionário escolar (例解ー学習国語辞典、de 金田京助 (Kyousuke Kaneda), publicado originalmente em 1965), 野心 (yashin) diz respeito à busca de um objetivo feita de forma cruel ou terrível (ひどく大きな望み). Já 向上心 é uma ambição benigna (“espírito progressivo”, segundo o Novíssimo Dicionário Japonês-Português de Makoto Hoshi, 1982), quando você busca ser algo melhor.

Geralmente, em economia, falamos de incentivos que fazem uso da ambição individual sem diferenciar muito entre estes dois aspectos da ambição (talvez porque tenhamos uma crença, algo ingênua (?) de que podemos neutralizar a ambição  dos indivíduos no processo).

Por exemplo, quando alguém me diz que estabeleceu um incentivo que faz com que um ambicioso gerente gere lucros para a firma, podemos ter como resultado o fracasso porque o sujeito destrói o ambiente de trabalho e faz com que os funcionários se voltem contra ele (em quantos filmes já vimos este roteiro antes?).

Algo me diz que Adam Smith percebia isso (estou me lembrando do que falei sobre o livro do Russ Roberts, há algum tempo). Será?

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Grécia e Restrição Orçamentária Não-Rígida

O Leo Monasterio nos lembra que, para entender a questão da Grécia, você tem que entender um pouco do conceito de Market Preserving Federalism, ou melhor, de soft budget constraint.

O Boueri chama-a de restrição orçamentária maleável, embora eu – e outros – prefiramos restrição orçamentária frouxa (ou não-rígida). Talvez Boueri possa ver um exemplo de reflexão sobre a realidade brasileira usando estes conceitos em um trabalho escrito alguns anos antes do ótimo livro citado pelo Leo, aqui (o segundo colocado tem um trabalho sobre isto, aplicado a Minas Gerais).

Continuo insistindo que Janos Kornai merece um Nobel pela introdução deste belíssimo conceito (restrição orçamentária não-rígida) juntamente com o Barry Weingast (já que Ronald McKinnon faleceu). É uma aposta remota para um Nobel, eu sei, mas com os problemas da Grécia vemos, novamente, que o problema da rigidez da restrição orçamentária é muito atual.

Sim, seria um prazer imenso voltar ao tema e ver novos trabalhos tentando medir, empiricamente, o grau de rigidez de restrições orçamentárias municipais, estaduais, nacionais…ou, melhor ainda, estudando a questão de seus determinantes. Eis aí um tema de monografia que não deveria ser desprezado.