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Mantegada

O Cristiano colocou na mantegada semanal o descaso do sr. Mantega com a crise. A imprensa (imprensa, não os colunistas oficiais, ok?) divulgou a fala do ministro sobre sua “cara de paisagem”. Enquanto isso, no Estadão de hoje, a entrevista com o prof. Pastore inicia-se com a chamada de que ele não dormia direito a dias porque tentava entender a crise (ele é consultor privado, não ministro do governo).

Eis aí uma lição da mantegada desta semana: no setor público, o incentivo para usar a população como experimento científico e/ou para não ligar para o que ocorre na realidade é maior do que no setor privado.

Mais uma inesperada vitória do mercado sobre o governo na luta por uma sociedade mais humana, justa, etc.

UPDATE: como sou injusto! O nosso prof. Pastore já foi presidente do BC. Assim, minha intepretação sobre os incentivos está errada. Então, presumo que a diferença está em outro fator. Capital humano? Valores vindos da infância? Quem saberá…

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Bancos Centrais e a crise

The Effectiveness of Central Bank Interventions During the First Phase of the Subprime Crisis

Frank, Nathaniel & Hesse, Heiko

This paper provides evidence that central bank interventions had a statistically significant impact on easing stress in unsecured interbank markets during the first phase of the subprime crisis which began in July 2007. Extraordinary liquidity provisions, such as the Term Auction Facility by the Federal Reserve, are analyzed. First a decomposition of the Libor-OIS spread indicates that credit premia increased in importance as the crisis deepened. Second, using Markov switching models, central bank operations are then graphically associated with reductions in term funding stress. Finally, bivariate VAR and GARCH models are adopted to econometrically quantified these impacts. While helpful in compressing Libor spreads, the economic magnitudes of central interventions have overall not been very large.

Bancos Centrais importam? Os temíveis “patinadores” e “desindustrializadores” banqueiros centrais deveriam ser reverenciados pelos seus críticos (principalmente os com baixo estoque de capital humano)? Eis uma pergunta que geralmente eu me faço e cuja resposta eu já sei…

O mais importante é notar que não é de críticas bonitinhas, com retórica de briga de futebol, que você ganha o debate. É com medidas de custo e benefício. Qual o impacto líquido das ações do Banco Central? Mede aí, rapaz. O que deu? Mostre os resultados, vamos discutir a metodologia. Assim é que se faz Ciência Econômica. O resto é oba-oba.

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Multiplicadores

Nossos economistas brasileiros falam muito pouco do que interessa nestes tempos: o real impacto dos gastos públicos e/ou dos cortes de alíquotas sobre o crescimento econômico. Pois bem, eis algumas observações para os EUA. Uma, recentíssima, de Robert Barro e outra, sobre o problema da transparência dos gastos públicos.

Até agora, nenhum economista brasileiro – destes defensores fanáticos do aumento de gastos públicos – apresentou algo similar. Interessante é que se a economia brasileira for parecida com o que Barro descreve, o governo brasileiro pode ter conseguido algum crescimento não por conta do aumento de gastos, mas simplesmente pelo corte do IPI. Como sei disso? Não sei. Mas ninguém mais estimou mesmo. Então, por enquanto, é tudo chutometria.

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Quem previu a crise?

Em primeiro lugar não foram os profetas usuais. Estes, em geral, acusam crise em cada xícara de café, enxergam uma conspiração Bush-Opep-neoliberais em partida de Fla-Flu e geralmente babam quando falam.

Prever a crise, de certa forma, é difícil. Mas alguns já falavam sobre os problemas há alguns anos. Neste pequeno artigo, o autor fez uma interessante pesquisa sobre alguns autores que detecteram sinais de fumaça há algum tempo.

Pois é, eis um trabalho interessante…

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Como diminuir custos na crise?

Eis uma opção de diminuição de custos adotada no Japão: sharing. A matéria mostra como as pessoas não podem ser realmente consideradas não-racionais quando seu interesse está em jogo. Esta história toda de irracionalidade é muito engraçada. Em 1999, na ANPEC, comentei um artigo e citei o trabalho de Byran Caplan sobre irracionalidade racional.

Embora 9 entre 10 economistas brasileiros se diga “original”, “contra-a-corrente” e tenha outras supostas qualidades “descoladas”, “alternativas” do tipo “outra teoria econômica é possível”, nenhum deles levou à frente a discussão. Uma pena. Para mim, a notícia tem tudo a ver com isto: quanto mais você depende da racionalidade para viver, mais você busca incentivos racionais para minimizar custos.

Vale a pena ler o trabalho de Caplan, resumido em seu livro sobre os incentivos no mercado político (The Myth of the Rational Voter).

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Onde está o multiplicador?

Em diversas ocasiões eu reclamei, aqui, da falta de senso dos economistas brasileiros. Dos políticos, claro, não espero nada por conta dos incentivos que os motivam. Geralmente, meus colegas reclamam da falta de análise de custo-benefício. Coisas do tipo: o governo propõe uma política, implementa-a e sequer analisa corretamente o resultado. Esta é a especialidade de muita gente lá na PUC-RJ, atualmente.

Contudo, minha queixa é anterior e específica a um único tópico: a política fiscal. No início da crise imobiliária norte-americana abundaram discursos sobre o “fim do capitalismo”, “o renascimento de Keynes” e outras baboseiras que não se sustentam, por exemplo, se você relê o próprio Keynes.  Mas o que me incomoda? A falta de simples estimativas de impacto. Onde estão os multiplicadores de renda, por exemplo? Qual a elasticidade-gastos do governo da renda agregada? Quanto, de fato, é gerado por um aumento no gasto do governo?

Alguns estudos já foram citados por mim, em uma tentativa de trazer alguma racionalidade a este debate que mais parece uma conversa de boteco – uma notável involução no discurso dos economistas da era da Silva. Há, claro, um componente da própria evolução da moderna Ciência Econômica que influi nisto – e que me foi lembrado pelo Selva recentemente: os incentivos à publicação acadêmica. Vale a pena, ao leitor interessado em entender melhor o problema ler este pequeno, mas profundo, texto de Bruno Frey.

Mas voltemos ao tema de hoje: os multiplicadores do gasto público. Após tanto tempo, eis que mais um artigo estuda o tema. Trata-se de Oliveira, Marques & Jacinto (no prelo). O foco é o gasto público local, ou seja, o estudo é sobre o impacto dos multiplicadores relativos aos gastos públicos locais. Acho o tema interessante e difícil. Vamos ao resumo do texto:

Este artigo estuda o papel da política fiscal local no crescimento econômico de cidades. Para este fim, o artigo apresenta um modelo espacial de crescimento econômico com governo, que incorpora as contribuições das teorias do crescimento endógeno e da nova geografia econômica. O modelo é avaliado empiricamente através de uma aplicação para as cidades brasileiras na década de noventa. Os resultados mostram que o governo local tem um importante papel no crescimento econômico das cidades, pois os investimentos públicos mostraram-se eficientes e afetaram positivamente o crescimento econômico. O artigo avalia a política de distribuição de recursos via fundo de participação de municípios e encontra efeitos positivos no crescimento econômico. Os resultados mostram indícios de gastos públicos ineficientes e de efeitos negativos da tributação local no crescimento econômico das cidades.

Promissor, não? Bem, os autores escolheram um belo tema e a abordagem da Nova Geografia Econômica está (mais) em moda desde o Nobel ganho por Paul Krugman.  Entretanto, alguns problemas: qualquer impacto que se queira medir, neste caso, restringe-se a uma amostra que parou em 2000. Na verdade, os dados são de dois segmentos de tempo: 1991 e 2000 (o famoso atlas do IDH…). É uma fonte legítima, mas as conclusões para depois de 2000 são sempre complicadas.  Eu seria menos otimista nas conclusões do que os autores, mas vamos lá.

Outro ponto é que a proxy utilizada diz respeito ao crescimento do salário médio em uma cidade. Embora haja um modelo teórico no texto que dá respaldo ao uso desta variável, eu não diria que há uma microfundamentação tal que se possa interpretar o salário como produtividade. Por exemplo, não se considera, nem teoricamente, nem no modelo empírico, a ação de sindicatos locais que, certamente podem impactar no salário médio de uma região.

Finalmente, embora os autores apresentem as seis regressões, senti falta da interpretação que, para mim, é a mais útil em termos de políticas públicas: qual o tamanho do multiplicador? Se os coeficientes estimados mostram algum impacto, tome-se, no artigo, o coeficiente do FPM na equação 6 da tabela 1: 0,0256. Se isto é uma elasticidade, é baixíssima, se não o é, também não é um multiplicador tão forte.  Mesmo com a separação de gastos produtivos e improdutivos (equações 3 e 4), não há muita diferença: o impacto no aumento de salário médio de um aumento do gasto do governo fica em torno de 0,02 (e não está claro que unidade de medida é esta).

Assim, eu gostei mais do título do artigo e de sua introdução do que dos resultados alcançados. Também senti falta de uma revisão da literatura que incluísse artigos publicados anteriormente para o Brasil sobre o tema. O próprio Jacinto, o meu colega Paulo Jacinto, tem artigo anterior sobre o tema. Isto sem falar em alguns textos que o leitor mais atento poderá encontrar nos links deste texto.

Louvável esforço, contudo. Mais um artigo em busca dos multiplicadores tão festejados pelos economistas do governo (lógico…), mas jamais encontrado com facilidade em artigos de quem faz pesquisa e não apenas discurso para a platéia. Novamente, se alguém tiver dicas de artigos sobre o tema, para o Brasil, pode depositar aí na caixinha de comentários.

p.s. a melhor leitura para se entender o que é o tal multiplicador é esta aqui.

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Controle de remunerações

Está na moda falar de tentar controlar os “ganhos” dos CEO’s. Esta idéia comum não encontra paralelo no setor público – aquele explorado e abusado por políticos – no Brasil. Já Russ Roberts fez uma bela crítica a um político norte-americano aqui.

Aliás, esta é uma boa idéia: por que não discutimos melhor os incentivos sobre os gastos públicos? Continuo vendo muita pressa em culpar o mercado pela crise e pouco esforço intelectual em entender as incríveis falhas de governo envolvidas no início da crise. Sem falar na falta de discussão sobre os impactos de políticas econômicas sobre a economia e mesmo sobre a qualidade sofrível de muitos dados que o governo divulga (para fins de análise estatística, por exemplo).

De qualquer forma, Russ Roberts fez algo que poderíamos fazer com cada um destes políticos brasileiros. Basta analisar os dados da Transparência Brasil.

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Nepom

O time do Nepom – parte dele – tem trocado mensagens desde ontem sobre a apresentação de segunda-feira. O que eu tenho visto, vamos deixar bem claro, vai impressionar os convidados (isto é, você, leitor). Quer saber mais sobre o Nepom? Então marque a página do grupo em seus “favoritos”.

p.s. desta vez, um pouquinho de economia mineira no cardápio. Pronto, já falei muito. E nem é Minas Gerais o prato principal das novidades que teremos…

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Você esperava outra coisa?

Honestamente, este resultado não me surpreendeu. Em uma economia ultra-fechada como a brasileira (sim, apenas os mais ricos têm acesso à grande maioria dos benefícios da globalização), na qual os efeitos da crise sequer foram seriamente computados pelo governo (vide todas as declarações contraditórias das supostas autoridades oficiais no assunto) para que se tomassem medidas importantes e na qual se mexe na poupança quase apenas para garantir a farra da dívida pública (sim, existe argumento teórico para isto, mas ele sai da academia, bate na trave e sai para escanteio), por que é que eu esperaria que o consumidor pensasse na crise como um norte-americano pensa?

Difícil, né?

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Se governo é tão bom para corrigir falhas de mercado…

…por que não previu a crise? Pois é, foi o Roubini (e mais uns gatos pingados), economista do setor privado (leia-se: mercado) que deram alguns alertas.

Aí a crise veio e começou a onda de salamaleques para uma suposta eficiência do Estado (governo) sobre o mercado. Tanto que, diante disto, muita gente supostamente inteligente tá muito caladinha…

Mantenho a pergunta: se o governo é tão bom, por que não previu a crise? Se não previu, por que é a melhor solução para os seus problemas? Ah…