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Econometria 101: depressão, suicídio, casos e mortes por Covid-19

A busca por palavras no Google como “suicídio” e “depressão” pode ter uma relação com a pandemia, mas não apenas.

Mesmo assim, eis um exercício simples de Econometria. Estimei quatro regressões simples: duas com “suicídio” como variável dependente e duas com “depressão” como tal. Sim, são os resultados do Google Trends. As variáveis independentes são os acumulado de casos e mortes por Covid-19, obtidos do Brasil.IO. Os dados são estaduais (cross-section).

Claro que há um monte de problemas aí para se discutir em sala de aula. As regressões a seguir, portanto, são apenas para despertar o questionamento dos alunos.

Para a depressão:

^l_depressao = 8.04 + 1.05*l_obitos_pop
(2.85) (0.432)

n = 27, R-squared = 0.146
(standard errors in parentheses)

^l_depressao = 3.69 + 0.933*l_casos_pop
(1.03) (0.384)

n = 27, R-squared = 0.164
(standard errors in parentheses)

Para o suicídio:

^l_suicidio = 3.69 + 0.933*l_casos_pop
(1.03) (0.384)

n = 27, R-squared = 0.164
(standard errors in parentheses)

^l_suicidio = 8.04 + 1.05*l_obitos_pop
(2.85) (0.432)

n = 27, R-squared = 0.146
(standard errors in parentheses)

Em todas as especificações, os coeficientes são estatisticamente significativos e, aproximadamente, a busca por suicídio ou por depressão tem elasticidade unitária, seja com os óbitos per capita ou com os casos per capita. Em outras palavras, o aumento de 1%, seja nos óbitos ou nos casos (ambos per capita) leva a um aumento de 1% na busca de palavras como “suicídio” ou “depressão”.

Obviamente, o exercício é muito limitado. A causalidade é frágil, são regressões simples e não há muito o que fazer (ou dizer) com 27 observações de maneira muito mais peremptória. Mas é um exercício divertido para a sala de aula. O aluno pode ser convidado a aperfeiçoar o modelo. O que falta? Proponha algo melhor.

A planilha com os dados está aqui, para os interessados.

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O guia para o editor de um periódico científico brasileiro (versão inicial)

Você começou a editar um journal e está perdido? Bem, há algumas regras não-escritas que podem te ajudar e elas não se referem à plataforma usada. São mais uma espécie de guia de boas maneiras ou um guia do que evitar para que sua vida, como editor, seja menos turbulenta. Lembre-se: editores, pareceristas e autores têm egos e, portanto, são muito chatos quando querem. Sugestões são bem-vindas.

economia aplicada · pandemia

Essencial mesmo é falar de aglomeração

Estamos no Ano II da Era Covídica. Segundo o painel da Johns Hopkins, hoje, no dia 11 de março de 2021, temos 2,621,98 mortos pelo novo vírus (no Brasil, pela mesma fonte, seriam 270,656). Desnecessário dizer que o quadro não é bonito.

É bastante óbvio que as perdas humanas não incluem apenas efeitos de curto prazo da doença – em si, já bastante complicados – mas também há custos derivados da perda de empregos. A ILO (em português, “OIT”), em janeiro, anunciava que, no ano passado, a perda mundial foi estimada em 255 milhões de empregos. Outro estudo estima que boa parte das perdas está em setores trabalho-intensivos. Não surpreendentemente, o setor de delivery de refeições (e outras mercadorias) tem sido uma importante fonte de renda para muitos (veja também esta matéria da CBS).

A ameaça de perda de renda ou de saúde, como sabemos, disparam diferentes – e não necessariamente harmônicas – reações nas pessoas. Por um lado tornamo-nos mais competitivos, por outro queremos que “cuidem de nós”. A situação não melhora se considerarmos os – ainda pouco conhecidos – resultados do prolongado isolamento social sobre os indivíduos. Mas toda crise é uma oportunidade e não somente para você: bons políticos sabem calibrar seus discursos e ações usando estas reações para maximizar sua chance de reeleição (ou de eleição de seus candidatos).

A morte ou o desemprego não chegam primeiro “na sociedade”, mas no indivíduo: a mortalidade em uma sociedade é a simples soma das mortes individuais. A pandemia deixa isto muito óbvio para quem ainda insiste em pensar o oposto. Perceber este fato talvez amplifique as reações que cada um sente diante da incerteza trazida pela pandemia. Em termos econômicos, por exemplo, é um choque negativo tanto para o setor produtivo (o famoso lado da oferta) quanto para os consumidores (lado da demanda).

Não é por acaso que a maioria dos governos optaram por algum tipo de auxílio emergencial. O distanciamento social – seja ele voluntário ou coercitivo – sem um auxílio se torna um problema para os que não possuem a opção do teletrabalho, sua gravidade variando conforme outros fatores como nível de capital humano, pobreza, etc.

Desnecessário dizer que há muita polêmica sobre o tal distanciamento social, principalmente quando o assunto é que atividades devem ser paralisadas, já que ninguém parece confortável em ouvir que deve ficar em casa trancado, embora sugerir isto ao outro possa lhe parecer razoável.

No Brasil, quando se deseja falar destes shutdown econômicos, usa-se o termo atividades e serviços essenciais. Na minha modesta opinião, acho esta descrição, que resume carreiras individuais e ramos econômicos tão distintos, péssima. Toda atividade é essencial e, retomando aquele pequeno parágrafo, linhas acima, sobre como a incerteza sobre a saúde ou a estabilidade financeira tem impacto sobre as reações humanas, não é nada agradável ouvir que sua ativdade é não-essencial.

Acho que um pequeno exercício explica melhor meu ponto. Imagine-se falando com seu avô (muitos, inclusive, perderam avós na pandemia) que ele não deve mais fazer o que faz porque sua atividade não é essencial. Dói, não? Mas dói mais porque você sabe que o ponto não é se uma atividade é essencial (por Deus do céu, é tão difícil perceber que um lixeiro é tão importante quanto um juiz, o que não quer dizer que devam ganhar o mesmo salário?).

O ponto central é se uma atividade ou serviço gera aglomeração ou não. É com isto que devemos nos preocupar. Alguns perceberam isto e tentam implementar políticas de isolamento social baseadas nas famigeradas bandeiras de cores diferentes. Claro, para mim, deveríamos falar em atividades que aglomeram (em determinados horários) ou não. Seria mais difícil acompanhar? Por óbvio. Mas quão difícil?

Há algum tempo falávamos dos preços dinâmicos praticados pela Uber ou pelos que cuidam do metrô de Londres, ou mesmo sobre os pedágios em Cingapura (que soa muito mais feia do que Singapore…). Talvez esta discussão devesse ser abraçada por aqueles que acreditam ser possível criar políticas de contenção ao vírus que minimizem as perdas econômicas de curto prazo (se isso não é um tradeoff, não sei o que é).

Auxílios emergenciais baseados em níveis diferentes de aglomeração? Pode ser uma ideia maluca ou imbecil. Mas sem um pouco de reflexão e diálogo, jamais saberemos. Não é só pela empatia, claro.

p.s. É óbvio, mas não custa lembrar que nenhum texto meu refletiu, reflete ou jamais refletirá (necessariamente) a opinião do meu avô, vizinho, amigo, instituição a que pertenci, pertenço ou um dia pertencerei (não por escravidão, espero, mas por alguma saudável relação de trabalho). Quem trabalha sob a ótica do individualismo metodológico não precisa dizer isto, mas os outros seres humanos nem sempre conseguem separar o indivíduo de seu entorno…Então fica o alerta.

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Um rápido exercício econométrico: a função demanda de cerveja

O exercício é limitado e há problemas. Mas vale como uma brincadeira. Os dados vieram daqui e tive que importar os dados do PIB per capita do Banco Mundial. Obviamente, uma regra de três malandra possibilitou-me calcular o PIB per capita da Inglaterra, Gales e Escócia. Pior ainda: não há paridade de poder de compra nos dados.

Não faltam problemas, certo? Mas como você vai aprender econometria se não fizer um exercício? Ciente dos vários problemas, vamos aos resultados.

Como está tudo em logaritmos, o que temos aí é uma elasticidade-preço de -1.2 e uma elasticidade-renda de 0.61. Não, não saia por aí dizendo que acha este resultado supimpa. Vai soar velho, além de bobo, já que há muitos problemas nos dados.

Mas é divertido, não? Moral: se beber, não estime.