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1964: o ano em que todos, sem exceção, flertaram com ditaduras

Excelente artigo do historiador Marco A. Villa sobre 1964:

Com o desgaste dos modelos soviético, chinês e albanês, Cuba passou a ocupar o lugar. Teve papel central neste processo o livro A Ilha, do jornalista Fernando Morais, que visitou o país em 1977. Quando perguntado sobre os presos políticos, o ditador Fidel Castro respondeu que “deve haver uns 2 mil ou 3 mil”. Tudo isso foi dito naturalmente – e aceito pelo entrevistador.

 

Um dos piores momentos do livro é quando Morais perguntou para um jornalista se em Cuba existia liberdade de imprensa. A resposta foi uma gargalhada: “Claro que não. Liberdade de imprensa é apenas um eufemismo burguês”. Outro jornalista completou: “Liberdade de imprensa para atacar um governo voltado para o proletariado? Isso nós não temos. E nos orgulhamos muito de não ter”. O silêncio de Morais, para o leitor, é sinal de concordância. O pior é que vivíamos sob o tacão da censura.

 

É, pessoal, corações sujos por todos os lados, não é? Como nos ensina a boa História, não existem santos e demônios, apenas seres humanos. O problema é que alguns acham que sabem melhor do que os outros como os mesmos deveriam tocar sua vida. Dê-lhes poder e a complacência com a tortura e a violência brotará como chuchu em terras tropicais!

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A vida em Cuba

Parece que o governo cubano teme muito a ação dos indivíduos. Especificamente, de uma mulher: Yoani. Eu realmente não entendo como nosso fã-clube de torcedores da família do czar Castro diz querer debater idéias ao mesmo tempo em que esconde sua face diabolicamente autoritária sob o silêncio de quem vê um governo dificultar a vinda de uma única mulher para o Brasil para o lançamento do seu livro. Não é uma contradição (dialética) este homem socialista?

Gente, uma mulher de 40 anos pode ser tão perigosa que se ela sair de Cuba o regime do czar Castro cai? Que ditadura mais frágil…tanto apoio de bolivarianos, tanto dinheiro estrangeiro, tantos discursos inflamados, tanto controle da imprensa, e a igualdade socialista se limita apenas ao direito de não deixar ninguém sair de uma ilha por livre e espontânea vontade.

Engraçado o paraíso socialisa que alguns colunistas famosos da imprensa brasileira elogiam tanto. Vai ver existem duas Cubas  e a gente não sabe…

p.s. a segunda parte da entrevista está aqui. Veja as duas partes. Na próxima eleição para o Senado, se os “direitos humanos” são importantes para você, pense bem antes de votar.

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Nova versão do artigo científico menos discutido no Brasil

In 2004, the Chávez regime in Venezuela distributed the list of several million voters whom had
attempted to remove him from office throughout the government bureaucracy, allegedly to identify and
punish these voters. We match the list of petition signers distributed by the government to household
survey respondents to measure the economic effects of being identified as a Chavez political opponent.
We find that voters who were identified as Chavez opponents experienced a 5 percent drop in earnings
and a 1.5 percentage point drop in employment rates after the voter list was released. A back-of-the envelope calculation suggests that the loss aggregate TFP from the misallocation of workers across jobs
was substantial, on the order of 3 percent of GDP.

Eu me pergunto quantos blogueiros acham o uso dos dados privados de eleitores uma “natural” consequência da democracia popular bolivariana. O argumento, distorcido, é o de que “quem não deve, não teme”. Se “quem não deve, não teme”, passe-me seus dados bancários, suas senhas, seus dados e as medidas de sua esposa.

Tentando falar sério, este artigo é um dos mais importantes já publicados sobre as consequências do autoritarismo na América Latina. Vale realmente a leitura e eu já o indiquei várias vezes aqui, antes. Entretanto, esta versão é a mais recente e vem em boa hora já que estamos diante de uma polêmica acerca das frequentes insinuações do presidente venezuelano de que invasões de países alheios feitas por ele podem ser legítimas.

Se você achou muito natural e bonito o que se relata neste artigo – em termos de uso de dados alheios pelo governo – então você está a um passo de aceitar algo similar no Brasil.

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A imperialista BBC

A BBC, conhecida pela grande massa não-liberal brasileira como instrumento do capitalismo selvagem, sem rosto, feio e malvado, sofre com a gloriosa força bolivariraniana. É isso aí, gente! O Brasil não tem nada a ver com isso, né? O pessoal do “movimento” estudantil que sempre votava moções de apoio aos sandinistas está calada agora. Também, olha a escolha deles: burkas 100% algodão ou burkas com 66% algodão e 34% outros materiais.

Se fosse no Brasil, claro, a escolha seria outra, a BBC seria “imprensa bacana” e papagaio seria urubu.

Melhor ler economia mesmo. A cara de pau da galera não-liberal só falta pedir por uma bolsa por ato secreto do Senado.

Juro que vou parar de ler os jornais e comprar um destes de R$0,25 que vendem em BH. Pelo menos tem menos notícias de pervertidos, criminosos e estupradores.

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Não ao pagamento da dívida externa

Não resisto a quase copiar o título do post do Coronel. Um dos governantes é este protótipo de monarca, cuja forma de governar não consiste apenas de intimidações à oposição, mas também aos próprios aliados. Em qualquer aula de Ciência Política séria, este sujeito teria os qualificativos que merece. Mas, claro, no Brasil selvagem, há poucos cientistas sérios (o que me leva a parafrasear o presidente de certo órgão científico e perguntar: “por que tantas bolsas a doutorandos de Ciência Política?).

Tristes trópicos, não?

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Por que o bloqueio norte-americano a Cuba é inútil?

Exceto pelos eleitores de Miami, sim, o bloqueio não tem impacto sobre a ditadura cubana. Isto ocorre porque o governo cubano sempre consegue outros parceiros comerciais. As últimas notícias, por exemplo, mostram que o governo russo pretende continuar suas transações com o ditador cubano e sua oligarquia. As perspectivas não envolvem esmolas, como na era soviética, e sim recursos reais.

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Democracia do Fóro de São Paulo, Chávez e 10 perguntas

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ameaçou no sábado, 8, que pode colocar tanques nas ruas do Estado de Carabobo se a oposição vencer as eleições regionais que acontecem no dia 23 de novembro.

Pergunte ao seu professor:

1. O que Obama pensa sobre isto?

2. Por que os militantes dos partidos socialistas dizem que Chávez não é uma ameaça à democracia?

3. Por que os jornalistas de tendências não-liberais insistem em elogiar o presidente da Venezuela?

4. Como você, leitor, compatibiliza sua admiração pelo socialismo com a prática do mesmo?

5. Qual a importância de uma declaração como esta no contexto latino-americano atual?

6. O que é o Fóro de São Paulo, qual a participação brasileira no mesmo, e qual a relação com presidentes como Chávez, Morales e Correia?

7. Como o Itamaraty tem reagido a declarações como esta? Você acha que nosso corpo diplomático e nosso serviço de inteligência, a ABIN, preocupam-se com o surgimento de ditaduras próximas às fronteiras brasileiras?

8. Usar uma camisa com o rosto de Che Guevara, falar de liberdade e direitos civis e apoiar governos e projetos como os de Chávez são atividades logicamente compatíveis? Qual o papel da doutrinação ideológica nisto?

9. Você já ouviu falar no Khmer Vermelho e em como implantaram o sonho socialista?

10. Norberto Bobbio, muito divulgado pela esquerda nos anos 80, obviamente interessada em se mostrar menos hard e mais light, hoje nem é lembrado pela mesma esquerda. Foi trocado por Gramsci. Analise esta troca no contexto das declarações recentes do presidente bolivariano.

Dicas:

1. O texto citado neste post.

2. FARC.

3. Nativismo latino-americano como instrumento de manobra das massas.

4. Os perigos da petrocracia.

5. A inflação como fator polarizador do discurso bolivariano.

6. Existe liberalismo na América Latina?

7. O socialismo bolivariano na agricultura venezuelana.

8. Controle dos meios de comunicação na Venezuela.

9. Grupos de extermínio bolivarianos e a oposição: assassinato ou crime político?

10. O surgimento de um estranho país: Cuba-Venezuela.

11. Imperialismo bolivariano na América Latina.

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Liberdade de se eleger presidente e governar supõe alguma responsabilidade

Resposta simples ao sr. da Silva. Vejamos como anda a agenda de responsabilizações: (a) mensalão, (b) cartões corporativos, (c) uso indevido (leia-se: ilegal) de grampos e escutas telefônica, (d) outros.

Assim fica difícil, não? Até o dr. Hélio se cansou.

Eu adoro este papo de jornalista alinhado com o governo de que “a imprensa é irresponsável”. No entender desta gente – e pela lógica elementar de seu argumento – somente haverá imprensa responsável quando…o dito cujo for o dono dos meios de comunicação, dos métodos de comunicação, da linguagem de comunicação, etc.

É por isto que não dá para discutir com esta gente. Só dá mesmo para propor um processo no CADE por práticas monopolistas. ^_^

p.s. vá examinar os dados de liberdade de imprensa no mundo para verificar o que acontece. Eis uma boa agenda de pesquisa para um trabalho acadêmico: qual o papel da imprensa no desenvolvimento econômico? Quem define o que é “responsabilidade” para a imprensa? Aquele que deve ser vigiado por ela? Os que vigiam? A “sociedade civil organizada” (por nós, o grupelho)? Parece pura ironia, mas não é. De fato é um tema que exige reflexão.

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Pergunta básica

Excelente reflexão do Marcelo Soares:

“Hoje, a principal ferramenta de investigação de corrupção é a informação, e não tem como a gente obter informação sem o grampo dos suspeitos”, me disseram pelo menos quatro procuradores e juízes nos últimos dias. Faz sentido, embora todo mundo saiba (especialmente nos últimos dias) que há excessos. 

A questão é basicamente esta: é preciso controlar com rigor o uso do grampo, pra coibir os excessos. Mas como fazê-lo sem seguir o velho costume brasileiro de “na dúvida, proíba-se”?

Porque aqui no Brasil é assim: se o estado não consegue fiscalizar o trânsito pra evitar mortes, proíbe de vez a bebida. Se o jornal fala mal de um político em época de eleição, manda-se apreender a tiragem. Se não se consegue fiscalizar o que os políticos fazem na internet, proíbe-se o uso da Web nas campanhas. Se a modelo posa seminua com um terço, proíbe-se a reprodução da foto. Proíbe-se até videogame.

Eis a questão última da política pública brasileira: na falta de inteligência, capacidade de análise, evidências empíricas analisadas com todo o rigor científico, proíba-se. Não que não exista gente capaz (embora o sr. da Silva ache isto uma inutilidade…o que já diz algo sobre de que lado ele está), mas não interessa a muita gente dos poderosos sindicatos algo que seja realmente pluralista, com debate de idéias. 

A discussão do Marcelo merece uma profunda reflexão de todos.

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Você sabe com quem está falando?

Eis o melhor exemplo de que, neste país, rent-seeking vale mais do que mérito. O sujeito ganha uma medalha de ouro, critica a burocracia cuba..digo, brasileira, e leva uma bronca. Mais ainda, a bronca é tamanha que o sujeito se curva e se humilha

Chega a ser nazista a história: falou contra o governo, a Gestapo vem em bate. Ou, na moderna versão bolivariana, você fala mal de Castro e tem a ração cortada. Claro, há também o temível efeito bolivariano na versão chavista cujo presidente sabe, exatamente, quem é opositor por conta de uma safadíssima lista de opositores que o governo obteve em um referendo (ou plebiscito, sei lá)

Agora, a pergunta máxima: o que diria Celso Furtado disto tudo?

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Ahá

Depois da punição para quem mistura álcool e direção, o Ministério das Cidades estuda agora uma “lei seca” para usuários de remédios no País. A proposta do ministro Márcio Fortes já foi encaminhada ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), às Câmaras Técnicas e ao Comitê de Saúde e Segurança no Trânsito. A idéia é incluir um dispositivo na legislação que imponha restrição a motoristas que tomam determinados medicamentos, em especial os psicotrópicos (de venda controlada). 

O problema todo é o de sempre. Ou seriam os problemas?

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Enquanto o brasileiro dorme…

O projeto aprovado continua a sustentar a idéia do provedor de acesso vigilante. Se qualquer um fizer denúncia ao provedor de que algum usuário comete crime, o provedor é obrigado a comunicar sigilosamente à Justiça imediatamente. Sigilosamente. É obrigado a acompanhar cada passo de seu usuário em segredo. Como uma escuta que não necessita prévia autorização judicial. Coisa de Estado policial.

Ele transforma em crime o acesso a qualquer apetrecho ou mídia digital que tenha sido protegido. Celular bloqueado pela operadora? Não pode desbloquear sem expressa permissão. CD mesmo comprado que não permite cópia para o computador ou iPod? Mesmo que o indivíduo tenha comprado o disco, será crime.

É o Pedro Doria quem diz. Alguém notou que notícias sobre leis que regulam sua vida surgiram com mais vigor após a primeira administração da Silva? Ou é impressão minha? Não que não existissem antes (ah, os bons anos da ditadura…), mas parece que há uma certa mania ou modismo agora. O político, por algum motivo, pensa ser mais inteligente que o brasileiro, este ignorante que só faz beber e fazer falsas acusações aos políticos. Precisa mesmo de leis detalhadas. Aliás, precisa de vigilância. Muita vigilância…