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A economia em “Willie Dynamite”

willie_dynamite_filmposterEis um dos filmes de Blaxploitation mais úteis para a sala de aula. Lançado com legendas em português há pouco tempo (mas disponível na internet sem as mesmas…procure), este é um filme que traz vários temas de economia para diversas aulas de Economia.

Um resumo da história do filme está aqui e, bem, vamos aos spoilers.

1. Organização Industrial (Cartel) – a tensão óbvia da tentativa de cartelização entre os cafetões por um deles, Bell, logo no início do filme é uma descrição cinematográfica do que vemos em livros-texto de teoria dos jogos. Willie insiste que é um “capitalista” e que não tem “medo de competição”, frustrando o projeto de cartelização. A pergunta principal que ele faz é: “quem decidirá a divisão de lucros”.

2. Economia do Crime – Willie Dynamite (irônico apelido para Willie A. Short, como aprendemos na parte final do filme) é um cafetão e tem que gerenciar suas prostitutas. Não se discute muito como ele se transformou em cafetão, mas as variáveis estão ali para a discussão: a probabilidade de ser pego (em função de sua riqueza e como a mesma é variável conforme alguns policiais buscam prendê-lo a todo o custo, juntamente com a atuação dos cafetões concorrentes).

3. Empreendedorismo – Implícito nos dois itens anteriores, já que Willie tem que agir o tempo todo (e ele não usa auxiliares, gerenciando diretamente as prostitutas, nomeando uma como uma espécie de “braço direito”, mas com pouca autonomia) em prol do sucesso de seu negócio ilegal. Aliás, sobre a gerência deste tipo de negócio, na prática, veja, por exemplo, os dados desta pesquisa.

Finalmente, eis aqui uma pesquisa empírica de alguns antropólogos sobre o tema. O autor principal, inclusive, tem um livro sobre o tema que parece interessante.

Ah, claro, a trilha sonora do filme é uma atração integrante e não deve ser ouvida separadamente (mas isso é o que eu acho). Altamente recomendável.

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A política gerando empregos: um desempregado a menos!

Não é legal? Políticos ajudam a gerar empregos no país. Esta é mais uma das consequências do livre funcionamento dos mercados. Mesmo em momentos em que a economia está ruim, alguns empreendem e conseguem colocar alimentar sua família.

Sim, políticos, se ele estivesse empregado, ele não precisaria ganhar a vida com adesivos como este. Entretanto, a política econômica do governo – não sem alertas de bons economistas – levou a economia a uma situação em que, mesmo se o empreendedor-cidadão do vídeo quisesse arrumar um emprego agora, dificilmente conseguiria.

Pois é.

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A Teoria Econômica do Empreendedorismo

Olha eu de novo na minha resenha bibliográfica. Mas, desta vez, o texto é puramente teórico e eu queria deixar a referência aqui apenas para lembrá-los de que meu candidato eterno ao Nobel é William Baumol.

Journal of Institutional Economics (2011), 7: 1, 47–75

The interaction of entrepreneurship and institutions
Magnus Henrekson & Tino Sanandaji
Abstract: Previous research, notably Baumol (1990), has highlighted the role of institutions in channeling entrepreneurial supply into productive, unproductive,
or destructive activities. However, entrepreneurship is not only influenced by institutions – entrepreneurs often help shape institutions themselves. The bilateral causal relation between entrepreneurs and institutions is examined in this paper. Entrepreneurs affect institutions in at least three ways. Entrepreneurship ‘abiding’ by existing institutions is occasionally disruptive enough to challenge the foundations of prevailing institutions. Entrepreneurs sometimes have the opportunity to ‘evade’ institutions, which tends to undermine the effectiveness of the institutions, or cause institutions to change for the better. Lastly,entrepreneurs can directly ‘alter’ institutions through innovative political entrepreneurship. Like business entrepreneurship, innovative political activity may be productive or unproductive, depending on the incentives facing entrepreneurs.

Legal, né? Por isso é que eu acho que Baumol merece o Nobel. Não apenas por este papo de empreendedorismo, mas pelo conjunto da obra: mercados contestáveis, doença do custo, etc, sem falar no livro mais didático de equações diferenciais para graduação que já vi (e nunca achei para comprar). Estudei com aquele livro por vários semestres…

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Empreendedorismo: duas histórias

A gente acorda no sábado e encontra o jornal na porta de casa. No caso, o Utiná Press, jornal dos descendentes da província de Okinawa (a mais poderosa, eu diria, no Brasil). Aí eu vejo duas histórias de empreendedorismo.

O trabalho liberta!

Primeiro, a notícia de que a pequena Melissa Kuniyoshi está a caminho de lançar seu primeiro CD no Japão. Tendo começado no programa de Raul Gil (que sempre erra a pronúncia do nome dela, não?), a menina foi para o Japão e, como diria o pessoal da “centro-periferia”, deve começar a explorar os trabalhadores dos países centrais com seu talento musical (mais um exemplo de que esta teoria não explica muita coisa mesmo…). Confira o talento dela, por exemplo, aqui, com o grande sucesso de Rumiko Koyanagi lá dos 70-80, Seto no Hanayome e também aqui, já um pouco maior, com Hanamizuki, um sucesso mais recente da cantora taiwanesa, Hitotoyo.

Eu sei, eu sei, você também acha que o Ministério Público deveria intervir impedindo esta “exploração do trabalho infantil” porque você não consegue pensar em diferentes instituições que possam permitir que o talento individual floresça em crianças que deveriam, isto sim, estar estudando filosofia e sociologia para se tornarem cidadãs. Bem, você está errado, ponto.

O trabalho no Japão não é fácil, mas a família deu um passo arriscado e, espero, que fará de Melissa um sucesso.

“A emissora de TV do Japão Nihon Terebi veio até o Brasil para fazer uma matéria com ela”, conta Milton. No ano seguinte, foi a vez da TV Fuji manifestar interesse e Melissa percorreu o caminho inverso para participar de um programa musical exibido pela emissora japonesa.

A repercussão no YouTube foi o “cartão de visitas” de Melissa para Suzuki Jun.“Ele disse que gostaria de tê-la como aluna”, lembra Milton, afirmando que o convite feito pelo compositor é raro até mesmo para os próprios japoneses. “Nessa faixa etária da Melissa é muito difícil encontrar alguém com seu talento”, garante o pai.


A decisão, no entanto, não foi das mais fáceis para a família. Afinal, se tratava de uma mudança radical, que poderia colocar em jogo não só o futuro de Melissa como também mexeria com toda a família.

Uma trajetória de sucesso? Só esperando o CD para ver. Mas dá para perceber que talento a menina tem.

Como um japonês enriqueceu fabricando cocadas

Em segundo lugar, a história de um imigrante que começou como tantos, no interior de São Paulo, na lavoura e terminou empresário. É a história de Tokujin Higa – fundador do Higa Atacados – cuja família saiu de Okinawa e veio parar neste maravilhoso país das oportunidades que faz justiça a todas as raças (eu sei, soa nazista, mas o governo brasileiro tem promovido o termo, então, por favor, seja mais solidário e aceite o nazismo oficial em seu coração…).

Voltando ao que interessa, o jornal conta a trajetória do empreendedor. Após passar pela lavoura, virou aprendiz numa fábrica de cocadas. Obviamente, passou a vender cocadas nas ruas, em Campinas. Quando o dono da fábrica se retirou, ele assumiu. Passou a fabricar e a vender cocadas. Nada mais bonito do que ler:

Os utensílios utilizados desde esta época foram guardados com carinho por Tokujin, desde as ferramentas utilizadas para quebrar as cascas do coco, as colheres de medidas para fazer as cocadas, o primeiro tacho utilizado na fabricação dos doces e a cesta de bambu que utilizava para fazer as vendas. Tudo guardado, datado e catalogado. (Utiná Press, Mar/2014, p.22)

A expansão do negócio fez com que ele trouxesse os irmãos para a empresa. A reportagem prossegue contando como evoluiu o negócio de Higa com a construção de uma fábrica e a incorporação de novos produtos (doces) ao catálogo da empresa. Após a era heterodoxa de “planos” para combater a inflação veio a crise dos anos 90 que fez com que a fábrica parasse. O fim da produção dos doces veio com a mudança da empresa que passou a trabalhar com atacado e varejo, comercializando produtos de terceiros.

Ah sim, existe um Museu Histórico “particular” (assim nos conta o jornal), com o registro da trajetória da empresa. Mais ainda, parece que exist um livro, lançado pela ocasião dos 50 anos da empresa (1964-2014).

Pois é…

Interessante esta tal de Economia, não? Japoneses que percebem as preferências dos consumidores e aprendem a fabricar cocadas (e não doces de feijão) ou crianças que cantam músicas que agradam consumidores do outro lado do mundo usam seu talento para melhorar suas vidas.

Quem poderia ser contra empreendedores? Só mesmo gente que não trabalha ou que não tem talento. Afinal, empreender faz parte do DNA humano, não é mesmo? Bom dia.

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Novamente, a ética protestante…

Eu sempre volto ao tema aqui, mas hoje só vou citar e você pode ler e criticar, ok? O resumo está aí embaixo e os autores são Luca Nunziata e Lorenzo Rocco.

A Tale of Minorities: Evidence on Religious Ethics and
Entrepreneurship from Swiss Census Data*

Does Protestantism favour the market economy more than Catholicism does? We provide a novel quasi-experimental way to answer this question by comparing Protestant and Catholic minorities using Swiss census data from 1970 to 2000. Exploiting the strong adhesion of religious minorities to their confession’s ethical principles and the historical determination of the geographical distribution of confessions across Swiss cantons, we find that Protestantism is associated with a significantly higher propensity for entrepreneurship. The estimated difference ranges between 2.3 and 4.4 percentage points. Our findings are robust to a number of robustness checks, including a placebo test.

Caso você queira saber, já falei disto várias vezes aqui.

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Na era da globalização (e graças a ela), o folclore nacional é que dá lucro – o caso da Galinha Pintadinha

Notável matéria no Estadão de hoje sobre o maior sucesso nacional, creio, desde Mônica e Cebolinha. Sim, estou falando da Galinha Pintadinha. Alguns ótimos pontos da matéria:

1. As produções “piratas” (ou caseiras) são não apenas bem-vindas, como ainda dão lucro para a dupla de criadores. Lição para muita gente que acha que “direito autoral” é igual a “cláusula (supostamente) pétrea”.

2. Os empreendedores souberam aproveitar o que eu chamaria de legado de Câmara Cascudo (nosso grande folclorista). O autor da matéria insinua – e eu concordo – que a fonte do sucesso (senão a principal fonte) são as músicas folclóricas nacionais, reinterpretadas pela turma da Galinha Pintadinha.

Este segundo ponto é importante porque há um discurso – idiota, mas sempre repetido, apesar das evidências empíricas em contrário – de que “a globalização malvada e feia destruiu a cultura nacional”. Mentira. A globalização é um fenômeno mais ou menos intenso e começou com a primeira migração de algum ancestral nosso (refiro-me aos macaquinhos, só para não ficar muito sem datação histórica). Digo mais, ninguém no BNDES criou uma política industrial para o “setor estratégico” de desenhos de galinhas pintadinhas. Graças a Deus! Assim os empreendedores criaram, cresceram e hoje lucram satisfazendo crianças aqui e lá fora (sim, isso mesmo).

Câmara Cascudo estaria contente se vivo estivesse (creio eu).

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Jay-Z: o traficante que deu certo ou que deu errado?

Não conheço nada de hip-hop e afins, mas este artigo me fez pensar se o empreendedorismo do Jay-Z se desenvolveu a despeito de seu passado como traficante ou por causa dele. O que vocês acham?

No mínimo, é um destes cases que a patota deveria estudar em Administração (se é que já não o fazem). Muitas questões interessantes de microeconomia surgem da leitura deste texto. A diversificação dos negócios, o plano de negócios…

E tem gente que ainda pede “lei do governo” para fazer um show. É muita falta de criatividade o que, convenhamos, no mundo das artes, é um atestado de incompetência…

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O que é empreendedorismo?

a) Ensinar ao sujeito que ele deve aprender a correr riscos sozinho e lucrar com o sucesso ou;

b) Ensinar ao sujeito que ele deve sempre procurar privilégios para ele, sem se preocupar com mais nada?

Na sua cabeça, qual é a resposta correta e qual é a resposta que alguns acham ser correta?

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Discriminar e empreender

Entrepreneurship and the Taste for Discrimination

Christopher J. Coyne, Justin P. Isaacs and Jeremy T. Schwartz
Abstract
This paper analyzes the connection between discrimination and entrepreneurship. We contend that the entrepreneur is the central mechanism through which inefficiencies associated with discrimination are competed away. In addition to illuminating the mechanism through which existing discrimination tends to be eliminated, we also consider the more difficult case of consumer discrimination. The standard assumption is that consumer discrimination will not be competed away through market forces. In contrast, we find that entrepreneurs can correct the inefficiencies associated with this form of discrimination by influencing the costs and benefits associated with consumer discrimination. We empirically analyze the integration of black players in Major League Baseball to illustrate our theoretical arguments regarding entrepreneurship and consumer discrimination.

Artigo interessante, de Chris Coyne e co-autores, sobre o papel do empreendedorismo na diminuição da discriminação. A parte econométrica do artigo, contudo, não me parece suficiente para generalizações. De qualquer forma, leia-o.

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Onde está o estímulo fiscal?

Em Taiwan, um professor de economia vai ao ponto: por que não reduzir a carga tributária? Há claros interesses por trás de propostas que clamam por mais gastos públicos e não preciso citá-los aqui. Mas, vem cá, honestamente, por que não reduzir a carga tributária, segurar o tamanho do governo (o nosso já é quase um socialismo, dado o tamanho do governo no PIB, sem falar das regulações…), incentivar a formalização dos informais e promover – de verdade – o empreendedorismo e os mercados?

É tão difícil assim sair do canto da sereia bolivariana? Fala a verdade: é?

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Educação no Brasil

Household Income As A Determinant of Child Labor and School Enrollment in Brazil: Evidence From A Social Security Reform

Author/Editor: Carvalho Filho, Irineu E.
Authorized for Distribution: October 1, 2008

Summary: This paper studies the effects of household income on labor participation and school enrollment of children aged 10 to 14 in Brazil using a social security reform as a source of exogenous variation in household income. Estimates imply that the gap between actual and full school enrollment was reduced by 20 percent for girls living in the same household as an elderly benefiting from the reform. Girls’ labor participation rates reduced with increased benefit income, but only when benefits were received by a female elderly. Effects on boys’ enrollment rates and labor participation were in general smaller and statistically insignificant.

Bacana, né? Em um artigo bem menos técnico, outro tema de destaque: empreendedorismo.

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Democracias menos liberais são também as mais falidas? – Paz e Liberdade Econômica

Nosso debate já segue há meses, não? Aqui outro índice – fortemente correlacionado com nosso conhecido failed states index – o de paz (global peace index) cuja edição saiu, se não me engano, esta semana. Não vou reforçar o que tenho dito, mas apenas deixar o gráfico para que os interessados reflitam sobre o tema.

Sociedades mais liberais (inclusive economicamnte) são as menos falidas (o Estado funciona), mais pacíficas (olha aí em cima), menos corruptas e as que mais crescem. Há uma questão metodológica importante sobre estes indicadores pois muitos destes “índices-síntese” englobam algumas variáveis importantes (endogenia) das análises tradicionais. Uma hora destas teremos que fazer uma síntese disto tudo, mas se você der uma olhada no livro do Adolfo Sachsida, terá boas pistas sobre as possíveis explicações para as correlações que tenho apresentado aqui.

Ah sim, por curiosidade, o empreendedorismo também tem uma relação positiva com a paz. Ou seja, sociedades mais empreendedoras também são as mais pacíficas. Fica faltando ver se esta paz e este empreendedorismo seguem incentivos que levam à estagnação (o Brasil é um país pacífico e cheio de empreendedores…mas com incentivos notoriamente a favor de atividades rent-seeking).

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Mais pobreza, mais islamismo (e, depois, mais extremismo?)

Questão que surge ao se iniciar a leitura desta matéria sobre o crescimento do islamismo na Grande ABC. Pode a questão religiosa ser parte de um problema maior? A religião tem a ver com a ideologia que tem a ver com o desenvolvimento econômico (e com o empreeendedorismo ou com a falência de estados).

Há muita coisa interessante nesta discussão. Pena que poucos atentem para o fato, ainda.

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Economia Informal

A coisa anda tão feia para o trabalhador que a economia informal vira uma solução. Espanta, apenas, a questão básica: por que não vamos todos para fora da lei e esquecemos o governo? O otimismo do autor do estudo, em parte, eu compartilho. Mas acho muito complicada esta história de “olha como é legal ter mercadorias ilegais à disposição”. O custo disto é rasgar valores sérios (tão sérios que foram codificados em forma de lei), algo que nem todo economista entende muito bem, embora diga que não existe almoço grátis.

Então, sim, o brasileiro é empreendedor mas, não, não é um círculo virtuoso.