A gente acorda no sábado e encontra o jornal na porta de casa. No caso, o Utiná Press, jornal dos descendentes da província de Okinawa (a mais poderosa, eu diria, no Brasil). Aí eu vejo duas histórias de empreendedorismo.
O trabalho liberta!
Primeiro, a notícia de que a pequena Melissa Kuniyoshi está a caminho de lançar seu primeiro CD no Japão. Tendo começado no programa de Raul Gil (que sempre erra a pronúncia do nome dela, não?), a menina foi para o Japão e, como diria o pessoal da “centro-periferia”, deve começar a explorar os trabalhadores dos países centrais com seu talento musical (mais um exemplo de que esta teoria não explica muita coisa mesmo…). Confira o talento dela, por exemplo, aqui, com o grande sucesso de Rumiko Koyanagi lá dos 70-80, Seto no Hanayome e também aqui, já um pouco maior, com Hanamizuki, um sucesso mais recente da cantora taiwanesa, Hitotoyo.
Eu sei, eu sei, você também acha que o Ministério Público deveria intervir impedindo esta “exploração do trabalho infantil” porque você não consegue pensar em diferentes instituições que possam permitir que o talento individual floresça em crianças que deveriam, isto sim, estar estudando filosofia e sociologia para se tornarem cidadãs. Bem, você está errado, ponto.
O trabalho no Japão não é fácil, mas a família deu um passo arriscado e, espero, que fará de Melissa um sucesso.
“A emissora de TV do Japão Nihon Terebi veio até o Brasil para fazer uma matéria com ela”, conta Milton. No ano seguinte, foi a vez da TV Fuji manifestar interesse e Melissa percorreu o caminho inverso para participar de um programa musical exibido pela emissora japonesa.
A repercussão no YouTube foi o “cartão de visitas” de Melissa para Suzuki Jun.“Ele disse que gostaria de tê-la como aluna”, lembra Milton, afirmando que o convite feito pelo compositor é raro até mesmo para os próprios japoneses. “Nessa faixa etária da Melissa é muito difícil encontrar alguém com seu talento”, garante o pai.
A decisão, no entanto, não foi das mais fáceis para a família. Afinal, se tratava de uma mudança radical, que poderia colocar em jogo não só o futuro de Melissa como também mexeria com toda a família.
Uma trajetória de sucesso? Só esperando o CD para ver. Mas dá para perceber que talento a menina tem.
Como um japonês enriqueceu fabricando cocadas
Em segundo lugar, a história de um imigrante que começou como tantos, no interior de São Paulo, na lavoura e terminou empresário. É a história de Tokujin Higa – fundador do Higa Atacados – cuja família saiu de Okinawa e veio parar neste maravilhoso país das oportunidades que faz justiça a todas as raças (eu sei, soa nazista, mas o governo brasileiro tem promovido o termo, então, por favor, seja mais solidário e aceite o nazismo oficial em seu coração…).
Voltando ao que interessa, o jornal conta a trajetória do empreendedor. Após passar pela lavoura, virou aprendiz numa fábrica de cocadas. Obviamente, passou a vender cocadas nas ruas, em Campinas. Quando o dono da fábrica se retirou, ele assumiu. Passou a fabricar e a vender cocadas. Nada mais bonito do que ler:
Os utensílios utilizados desde esta época foram guardados com carinho por Tokujin, desde as ferramentas utilizadas para quebrar as cascas do coco, as colheres de medidas para fazer as cocadas, o primeiro tacho utilizado na fabricação dos doces e a cesta de bambu que utilizava para fazer as vendas. Tudo guardado, datado e catalogado. (Utiná Press, Mar/2014, p.22)
A expansão do negócio fez com que ele trouxesse os irmãos para a empresa. A reportagem prossegue contando como evoluiu o negócio de Higa com a construção de uma fábrica e a incorporação de novos produtos (doces) ao catálogo da empresa. Após a era heterodoxa de “planos” para combater a inflação veio a crise dos anos 90 que fez com que a fábrica parasse. O fim da produção dos doces veio com a mudança da empresa que passou a trabalhar com atacado e varejo, comercializando produtos de terceiros.
Ah sim, existe um Museu Histórico “particular” (assim nos conta o jornal), com o registro da trajetória da empresa. Mais ainda, parece que exist um livro, lançado pela ocasião dos 50 anos da empresa (1964-2014).
Pois é…
Interessante esta tal de Economia, não? Japoneses que percebem as preferências dos consumidores e aprendem a fabricar cocadas (e não doces de feijão) ou crianças que cantam músicas que agradam consumidores do outro lado do mundo usam seu talento para melhorar suas vidas.
Quem poderia ser contra empreendedores? Só mesmo gente que não trabalha ou que não tem talento. Afinal, empreender faz parte do DNA humano, não é mesmo? Bom dia.