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Etiquetas tortas: incentivos importam

Como seria possível saber, além de qualquer dúvida, que a Albânia era comunista apenas olhando uma garrafa de seu conhaque ou um vidro de suas compotas de frutas?

No caso destas últimas, claro que as etiquetas não estariam coladas direito. Podemos especular se essa tortuosidade representaria revolta por parte dos etiquetadores de vidros ou uma sátira sutil. Afinal, se as estiquetas fossem coladas apenas ‘sem cuidado’ – por causa da embriaguez, digamos – , poderíamos esperar que, de vez em quando, aparecesse uma etiqueta alinhada. Porém isso não acontece: examinei os vidros em diversas lojas para verificar a veracidade dessa observação particular. [T. Dalrymple, Viagens aos Confins do Comunismo, É Realizações, 2017, p.36]

Incentivos importam, não é? Como não há que se agradar consumidores, por que se preocupar em etiquetar corretamente uma compota de frutas?

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Incentivos importam? O caos microeconômico criado pelo coletivismo soviético

Eis um artigo mais antigo, mas importante, sobre o problema dos anticomuns (o problema oposto ao famoso problema dos comuns). O livro de Cooter & Ulen (acabei de falar dele no post anterior) descreve o exemplo interessante dos apartamentos que, após a Revolução Russa, foram divididos entre várias famílias (sabe aquela história de que “se o socialismo for implantado no Brasil, você terá que dividir seu apartamento”? Pois é, ela não é uma ficção…).

Como era feita a divisão de um apartamento? Pode-se esperar que as famílias dividam os cômodos e, de comum acordo, compartilhem o(s) banheiro(s) e cozinha. Bem, aí vem o problema.

Quando o comunismo acabou, essas famílias achavam que tinham direitos de propriedade contínuos a suas peças individuais e aos espaços comuns. Suponha que, se transformado num imóvel para um único proprietário, o valor do apartmento – ou ‘kommunalka’, como era chamado – seria de US$ 500 mil. Suponha que atualmente haja quatro famílias de inquilinos e, cada uma ocupe uma peça e compartilhe o uso dos espaços comuns. Vendidos separadamente, os interesses dos inquilinos alcançariam, segundo nossa suposição, U$ 25 mil – ou US$ 100 mil no total. Converter a ‘kommunalka’ num único apartamento criaria US$ 400 mil em valor. Mas ocorreu frequentemente que os custos da combinação dos interesses individuais dos inquilinos eram tão grandes que impediam o uso mais valioso do recurso. [Cooter & Ulen, Análise Econômica do Direito, 2010, p.139]

Esta é uma das interessantes distorções microeconômicas geradas pelo modelo econômico socialista soviético. Repare que não é um problema exclusivo da ex-URSS. Sempre que há excesso de direitos de propriedade (no sentido de que há ‘superproprietarização’, ou seja, há um número excessivo de direitos de propriedade em relação ao seu ótimo), o problema aparece. Já li em algum lugar que este é um problema atual da indústria de smartphones, na qual se tenta patentear até o deslizar dos dedos sobre a tela.

 

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Incentivos nas prisões norte-coreanas

Falam tanto de valor trabalho e de socialismo, mas na hora de implantar segurança (real ou imaginária) a seus regimes ditatoriais, mostram-se bons conhecedores da Ciência Econômica:

Por causa da maneira como a sociedade norte-coreana é subdividida, da classe hostil à classe central, somente cidadãos ‘confiáveis’ podem trabalhar como guardas. ‘Confiável’, na prática, significa membro da elite abastada. Esses guardas são treinados para desumanizar seus prisioneiros, para vê-los como ‘cães’ ou ‘animais’, e não seres humanos. Também são recompensados por evitarem fugas e, assim, abundam histórias sobre guardas fingindo ajudar um prisioneiro a escapar para atirar nele ou vê-lo ser eletrocutado até a morte na cerca elétrica, antes de arrastar seu corpo de volta a fim de coletar o bônus. [http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=29140, p.204-5]

Incentivos funcionam, não é? E já que o assunto da moda é falar de presídios, eis um bônus de leitura para quem não tem fraquezas…

De acordo com algumas poucas testemunhas, os prisioneiros [dos campos de concentração] não têm permissão para manter relações sexuais e, assim, nas prisões mistas, os abortos e o assassinato de recém-nascidos são sancionados pelo Estado. Os abortos forçados são realizados pela injeção de veneno no feto, simplesmente abrindo o útero da mãe ou, se tudo mais falhar, estrangulando a criança assim que nasce. (…) Um ex-prisioneiro descreveu uma tentativa de fuga fracassada. Enquanto o fugitivo jazia espancado no chão, os outros prisioneiros receberam ordens de andar sobre ele, estilhaçando seus ossos e pisoteando seus órgãos até que morresse. [idem, p.205]

Incrivelmente triste, não?

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Maximização intertemporal de utilidade, sabor kimuchi

Jong-il entendia que seu pai não escolheria como sucessor o homem que prometesse fazer o melhor para a Coréia do Norte ou para o povo. Ele escolheria o homem que prometesse fazer o melhor para Kim-Il-sung, mesmo depois de morto. Como todos os políticos sagazes, Kim Il-sung se importava tanto com o futuro quanto com o presente: ele se importava com seu legado. [Fischer, Paul. “Uma produção de Kim Jong-Il”. Record, 2016, p.90]

Mais sobre o tirano – e sobre um dos crimes mais ignorados pela patuléia – veja isto. Aliás, neste verbete você entenderá o porquê da imagem.

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Maravilhas do socialismo: o antissemitismo soviético na matemática

Vejamos como o antissemitismo soviético no campo da matemática teve efeitos provavelmente inesperados para os próprios antissemitas. Falamos da MGU (Moscow State University, em inglês), que recusa Frenkel em uma prova de vestibular absolutamente montada para reprová-lo, levando-o a procurar outra faculdade.

Como o destino escolheu Kerosinka (apelido do Instituto de Petróleo e Gás) como repositório de tanto talento? A resposta não é fácil. Sabemos que existiam outras instituições que se beneficiaram da exclusão dos judeus da MGU. Também sabemos que o estabelecimento dessa política de exclusão era uma ação consciente, que provavelmente encontrou alguma resistência inicialmente. Talvez tivesse sido mais fácil para algumas instituições continuarem a aceitar estudantes judeus do que instituir uma nova política. No entanto, depois que o fenômeno cresceu e havia um núcleo de estudantes judeus em Kerosinka, por que isso foi tolerado? Existiam boatos tenebrosos a respeito de uma conspiração da polícia secreta (KGB) para manter os estudantes judeus sob vigilância em um ou dois lugares. No entanto, parte da motivação pode ter sido mais positiva: a administração do instituto pode ter percebido um bom departamento se desenvolvendo e ter feito o possível para preservar o fenômeno. [Mark Saul, citado em Frenkel, Edward (2014) Amor e Matemática. Casa da Palavra, p.56-57]

Frenkel relata no livro que acreditava haver a tal conspiração da KGB, mas sim uma visão condizente com o desenvolvimento de pesquisas na faculdade por parte do diretor da ‘Kerosinka’.

Mas a ironia deliciosa desta história é pensar em como uma política antissemita – disseminada na URSS, a despeito do discurso oficial – gerou consequências inesperadas, como a criação de um grupo de matemáticos brilhantes em outras faculdades. Para quem acredita em planejamento central, isto é um insulto. Para quem defende a ex-URSS como modelo de planejamento, é um insulto duplo…

Claro, você leu nos livros do colégio que a URSS era uma “aliada” que ajudou a libertar judeus de campos de concentração nazistas, o que é uma visão parcialmente verdadeira dos fatos, já que esconde a existência dos campos de trabalho soviéticos na mesmíssima época. Veja aqui um pequeno trecho terrível para você ter noção do que foi a ditadura soviética:

Lenin’s metaphor, like Hitler’s, was of cleansing: ‘the cleansing of Russia’s soil of all harmful insects, of scoundrel fleas, of bedbugs’. It was a programme he initiated soon after, in 1918, to be continued first by his successor Stalin (…). The classic instance was Katyn. Fifty years after the Katyn massacre of April 1940, to the very month, the Soviet government in one of its last acts admitted something that few Poles had ever doubted: that it was the Soviets and not the Nazis who, during their joint occupation of Poland, exterminated some 15,000 Polish officers at Katyn in Bielo-Russia and elsewhere. [Watson, G. (1988). The Lost Literature of Socialism, p.89]

Ah sim, voltando ao tema central, o antissemitismo vivenciado por Frenkel, claro, não é desconhecido dos pesquisadores da História. Não, meus caros, a ciência soviética estava longe de ser um exemplo de sucesso e, usando a métrica da galera que gosta de falar de discriminação, gerou custos desnecessários para muito pesquisador talentoso…

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Socialismo Real – como funcionam os quase-mercados na terra dos sonhos dos bolivarianos

Um Peugeot 206 ano 2013 é vendido por US$ 91 mil, enquanto um 508 novo chega a custar US$ 262 mil, num país onde não é raro ganhar menos de US$ 20 por mês.

Como isto é possível? Desigualdade social gerada pelos mercados? Pense bem antes de responder a esta pergunta porque o responsável pelo baixo valor dos salários dos cubanos é o governo de Cuba (e também o nosso, no que diz respeito aos contratos flagrantemente desumanos que fez com médicos cubanos, com o surpreendente silêncio dos sempre atentos membros do Ministério Público).

O engraçado é que a matéria não vai até a raiz do problema. Por exemplo, o redator continua:

Por enquanto, a administração pública não fez nada para que os preços cobrados sejam minimamente ajustados à realidade cubana, deixando o mercado de automóveis limitado a alguns poucos endinheirados.

Eu sei que a “administração pública” é a grande responsável pelo fracasso sócio-econômico da ilha. O jornalista que redigiu a matéria, imagino, também sabe. Agora, como é que ele espera que o governo cubano consiga “ajustar minimamente” os preços à “realidade cubana” é-me um mistério. Por que?

Primeiro, pelo óbvio fato de que é o próprio governo (ou, como ele quer, a “administração pública”) o grande responsável pela mudança. Segundo, é lá que provavelmente se encontram os “poucos endinheirados”. Aliás, faltou fazer a pergunta: como é que pode existir alguém “endinheirado” num regime socialista?

Bem, ao contrário do discurso, é exatamente isto que um regime socialista faz. Não, não me refiro às toneladas de livros escritos sobre a igualdade no socialismo. Uma coisa é a publicidade dos intelectuais, outra, a realidade (como é que você acha que eles ganham a vida?). Obviamente, não é novidade para ninguém que assim seja no socialismo. Qualquer um que tenha estudado um pouco da história do leste europeu já deve estar familiarizado com isto. Quem é esta, como diria um porta-voz do governo atual, “elite branca”?

Antigos filhos da classe trabalhadora são os mais afoitos membros da nova classe. Foi sempre o destino dos escravos que seus representantes mais inteligentes e bem-dotados se tornassem seus senhores. Neste caso, uma nova classe dominante e exploradora nasceu da classe explorada (Djilas, M. A Nova Classe, Círculo do Livro, p.45)

Pois é. O jornalista que se espanta com o preço do Peugeot poderia ir além e se perguntar de onde surgiram estes endinheirados. O ex-assessor do Marechal Tito, Milovan Djilas, autor do trecho citado acima, foi bem claro na pista para se descobrir a origem dos “endinheirados” cubanos.

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O viés dos progressistas: lamentação pelo IBGE

Tanto no episódio do IPEA como neste péssimo episódio da PNAD do IBGE, o que não me espanta mais é o silêncio dos auto-denominados (e supostos) progressistas. Geralmente se dizem tolerantes com a divergência, mas não perdem a oportunidade de de cobrar, daqueles que deles discordam, uma suposta neutralidade porque, conforme dizem: sua opinião é viesada porque ideológica e a minha não. Cadê a neutralidade?

Pois é. Agora entendo a neutralidade deles: significa neutralidade de ação. Eles preferem se calar nestes episódios. Ou tentam arrumar uma desculpa para continuar sua agenda política como se a mesma fosse neutra (ou, como dizem: a sua é que não é neutra, logo…).

O ocaso do IBGE é perigoso. Repare que, mesmo para os admiradores do nacional-inflacionismo (nacional-desenvolvimentismo para alguns), que adoram o governo Médici (e também o do general Geisel), este é um péssimo precedente. Nem nos anos da ditadura houve tamanha interferência no órgão. Em democracias sérias, no outro extremo, isto também não ocorre.

O viés dos auto-denominados progressistas, para mim, está claro: além de carregarem a bandeira de neutralidade e diversidade enquanto praticam o oposto, eles se calam diante de perigosas interferências como estas.

Em ano eleitoral, com a credibilidade econômica reduziada a zero – e não falo do setor financeiro que, como o Ellery mostrou, é otimista e não pessimista, como afirma o “nervosinho” Mantega –  agora o governo começa a destruir a credibilidade daqueles que fornecem dados públicos. Combine a isto os poderosos interesses contrários a um bom desempenho no PISA e você terá um bando de gente analfabeta funcional que serve de massa de manobra ou para ações páramilitares no estilo black bloc contra os que discordam de você.

No final, você ainda vai achar que isto tudo é democracia, tolerância e diversidade, com o aval de alguns auto-denominados (e supostos) intelectuais que nunca perdem a oportunidade de ganhar um dinheiro governamental (= vindo do seu bolso) para divulgar suas idéias bovinas e dóceis ao governante da hora enquanto também achincalham adversários sérios ou não, imaginários ou não. Falam de “observar” (= vigiar e eliminar a divergência?) de imprensa, de democracia, mas o fato é que ninguém quer aprender sobre anos e anos de pesquisas sobre instituições e resultados econômicos ou políticos.

Pobres técnicos do IBGE. Passaram anos fazendo um trabalho sério, acreditando pessoalmente em alguns políticos ou partidos, obviamente, mas sempre separando o lado pessoal do profissional e, agora, isto. Não é só perigoso e triste: é frustrante.

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Miss Universo e Venezuela

“- Crianças, só leiam o que o tio Maduro manda ler, tá?”

Melhor que muita campanha de moda européia…(original daqui). Quem diria que um dia eu iria ver uma Miss Universo fazer isto? Ganhou de muita suposta militante feminista – que apenas fala, mas não age. Tem que ter coragem para fazer uma sessão de fotos assim.

Homens, mulheres, não importa, todos querem mesmo é liberdade. Por que será?

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Marco Civil Norte-Coreano acaba com cortes discriminatórios de cabelo!

Agora sim, as discriminações neoliberais com este gosto doentio pela diferença, fruto do egoísmo, vai acabar.

Repare que a história se limita “apenas” aos estudantes, como bem pesquisado pelo pessoal da BBC.

Imagino a alegria dos estudantes brasileiros filiados aos partidos que aplaudem o regime norte-coreano: eles não precisam seguir as regras do ditador e ainda podem continuar fazendo seu discurso pró-Coréia do Norte!

Não é o melhor dos dois mundos?

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Socialismo, na prática

O pessoal que adora uma ideologia “dizquerda” acha tudo lindo no mundo bolivariano. Coréia do Norte é solenemente ignorada e a ex-URSS é vista de forma simpática por muitos daquele lado do viés ideológico. O grande patrono da galera é o Stalin.  Mas, Stalin foi assim tão bom? Não.

Claro que eu gostaria de ver alguém fazer algo para o Brasil, por exemplo, com Getúlio Vargas, o ditador com mais homenagens em ruas e avenidas da América Latina.

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Imagine que você quer viajar para o exterior

Imagine que você saiu nas férias para fazer uma grana extra no Reino Unido ou, sei lá, nos EUA. Bacana, não é? Agora, imagine que, chegando nos EUA (fiquemos com este, sempre alvo de amor e ódio), você arrume um bico numa cadeia de fast-food. Jóia, apesar de ser brasileiro, os norte-americanos não são xenófobos a ponto de ignorarem o famoso cálculo de custo-benefício.

Você não ganha tubos de dinheiro, mas não tem restrições para trabalhar direito. Sai do serviço à noite e, de vez em quando, curte uma baladinha. Usa a internet para avisar seus familiares e contar suas burradas e sucessos para a turma de amigos. Um belo dia, conhece uma nativa e começa a sair com ela. Dá uns beijos, passeia, toma picolé, mas o dia de voltar se aproxima. Você faz as malas e volta para o Brasil.

A história é simples e nenhum brasileiro dirá que não conhece alguém que já não fez algo parecido.

Agora, vamos pensar na vida de um médico cubano que é obrigado (ou não) a vir para o Brasil. Ele vem trabalhar por um dinheirinho. Ok. Ele dá duro, tenta aprender um pouco de português, rala e, à noite, quer sair para a baladinha. Infelizmente, não pode ir se não for com um grupo de cubanos. Dentre eles, claro, tem o “olheiro” do governo cubano.

O tempo passa e ele não pode usar a internet livremente porque sabe que, se criticar seu governo, sua família terá sua ração diminuída. E tem os olheiros, claro.

Numa das noitadas, ele conhece uma brasileira e se apaixona. Opaaaa, a história não pode continuar. Por que? Porque o que o governo brasileiro pretende fazer, junto com o governo cubano, é aceitar o médico aqui, desde que ele não se relacione “intimamente” com nenhuma nativa. Não, eles não são racistas. Não se trata de uma visão fascista do império castrista (ou castrador?). É o medo, puro e simples, de que os médicos abandonem o país (deles) como o fizeram na Bolívia.

Um ex-ministro da Justiça, lembrem-se, forçou dois boxeadores cubanos a voltarem para Cuba porque, porque..sei lá, por motivos humanitários. Com o apoio de militantes que condenam a Apple ou a Nike por usarem trabalhadores em condições de semi-escravidão, alguns políticos brasileiros e outros cubanos estão para importar médicos sob estas condições.

A gente começa a se perguntar: com tanto médico em uma Europa em crise, porque não incentivar a vinda deles?

Eu não tenho nada contra a concorrência de médicos estrangeiros, não me entendam mal. Mas não acho bonito ou moralmente (ou eticamente, etc) correto trazer médicos com um monte de restrições à vida íntima deles (= liberdade individual, tá? Ou quer que desenhe? Use o Aurélio antes de espumar de raiva e vomitar comentários mal educados). A escravidão, segundo Marx, não era algo bonito de se ver. Entretanto, seus devotos seguidores acham correto fazer isto com seres humanos.

Por que não, simplesmente, liberar a emigração dos cubanos para o Brasil? Deixe que venham os médicos que quiserem vir. Deixe que trabalhem e se relacionem com quem quiserem. Não é assim com os brasileiros que vão ao exterior? Alguém aí acha correto obrigar estudantes brasileiros a capinar no exterior, sem liberdade de sair sozinho, sem direito a namorar ninguém e ainda ser vigiado e, já me esquecia, enviar parte da grana para o governo brasileiro?

Estão saindo às ruas estes dias por muitas causas. Eu sairia por uma causa destas: sou solidário com gente que vive sob uma ditadura. E vocês?

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Obsolescência Planejada

Existe um vídeo-documentário popular na Internet sobre uma tal Obsolescência planejada praticada por firmas para aumentarem suas vendas. O problema deste documentário é que ele não vai até as últimas consequências do conceito. Afinal, o que é a Obsolescência planejada? Não é apenas a condição tecnológica de um produto que ainda é “útil” (no sentido tecnológico do termo) ser descartado. Este conceito, aliás, não diz nos diz nada, já que ignora a questão dos custos econômicos.

Ironicamente, as pessoas que usam este conceito para criticar os produtores de alguns produtos, deixam de usar sua lógica de raciocínio (ainda útil) e a substituem rapidamente por uma crítica incompleta. Ao fazerem isto, procedem exatamente como aqueles que criticam. Obviamente, nem sempre o fazem de má fé, mas porque lhes falta mesmo alguma intuição no momento de sua análise. O que eu quero dizer, portanto?

Vamos levar a sério o conceito de Obsolescência planejada. Existe uma tecnologia que, de há muito tempo, funciona para alocar o que nós, economistas, chamamos de bens públicos. Trata-se da democracia. Há outras formas, como o socialismo, mas este provou-se tecnologicamente inferior há muitos anos (o que não impede alguns tiranos de o utilizarem para se locupletarem com o dinheiro alheio).

A democracia, obviamente, como fruto das ações humanas, não é perfeita. Não apenas não é perfeita, como é bastante criticada pelos mais diversos e insuspeitos escritores, filósofos e até por artistas de MPB patrocinados por verbas públicas e com grande penetração nos principais meios de comunicação. Democracia, assim, é igual a batata frita: está na boca de todos, dos mais imbecis aos mais inteligentes, sem distinção (até sua crítica é feita, portanto, de forma democrática).

Para que serve a democracia? Supostamente, para resolver problemas que o mercado não resolve. Adam Smith, dentre outros, já havia nos dado pistas sobre o que a democracia poderia fazer. Ele chamava isto de “papel do Estado (governo) na economia”. Como Adam Smith é um ser humano, obviamente, sua descrição deste papel sofreu críticas por parte de outros seres humanos não menos imperfeitos (alguns, eu diria, até meio imbecis).

Como disse meu amigo Diogo Costa, a democracia moderna é a democracia descoberta/inventada pelos norte-americanos. Pode-se chorar, espernear, bater os pezinhos, mas não adianta, é um fato histórico já ocorrido e consumado este o de que a democracia que temos veio mesmo da prática norte-americana. Posto isto, o leitor já deve estar se perguntando o que tem a democracia a ver com a Obsolescência planejada. Talvez a resposta não esteja tão óbvia e, portanto, pode ser interessante pensar em termos de exemplos.

Imagine o leitor o funcionamento de uma democracia como a que temos (por enquanto) no Brasil: há lá um presidente, senadores, deputados, governadores, prefeitos, ministros, etc. Quase todos eles são eleitos pelo voto popular. Custamos a chegar no voto popular, é verdade, mas assim também o foi nos EUA. Claro que há algumas diferenças entre os países (como o fato de que alguns juízes são eleitos lá, mas não aqui), mas isso não é muito importante para o argumento deste texto.

Ainda pensando no exemplo, o leitor pode escolher pensar nos governantes como seres binários: se pensam como o leitor, são “do bem”. Caso contrário, “do mal”. Obviamente, este conceito jogará por terra boa parte dos estudos humanos desde Freud e, para não ser acusado de anti-semita, vou desconsiderar esta hipótese e assumir que governantes são como nós: possuem interesses próprios e nem sempre estão preocupados em fazer o que lhes pedem os eleitores (aliás, o que lhes pedem os eleitores? Alguém sabe? Está escrito em algum documento?).

Nosso exemplo prossegue com os governantes e seus potenciais governantes (todos podem ser chamados de “políticos”, para poupar espaço e tempo de leitura) são, assim, auto-interessados e, caso não haja algum controle, tenderão a usar do monopólio legal da força e da coerção para arrecadarem o maior valor possível em reais sob a alcunha de “receita tributária” para fins os mais diversos possíveis. Eventualmente, alguns destes fins poderão trazer, não-intencionalmente, algum benefício para os eleitores, eventualmente…não.

É muito tentador, portanto, ser um político neste nosso exemplo. Mas podemos colocar alguns obstáculos à atuação desenfreada dos políticos. É verdade que eles continuam sem saber direito o que querem os eleitores, mas isso não justifica suas tentativas de tributá-los abusivamente. Há que oferecer algo em troca (como saúde pública, segurança pública, etc). Os obstáculos que podemos criar podem ter a forma de uma divisão entre eles. Crie-se um Legislativo e um Executivo que se complementem e, portanto, não possam agir individualmente. Caso você não seja um destes “amigáveis” defensores dos mensaleiros, pode também colocar neste exemplo um Judiciário independente.

O leitor, bem como eu, sabe que ainda assim há brechas para que os políticos nos roubem. Mesmo assim, como nos resumiu divinamente Churchill, a democracia ainda é o menos pior dos regimes. Bem, mas nada disso deixa os políticos felizes. Eles ainda querem, dado o poder enorme que possuem, criar tributações e tributações. Faz parte do jogo. Políticos não são atores imbecis nesta peça teatral. Eles sabem que podem criar privilégios para alguns, financiá-los com os impostos que recaem sobre todos e ainda roubar (de fato, o nome seria roubar) para si uma parte. É o famoso: “rouba, mas faz” noticiado pela imprensa, ela mesma, imperfeita, porém necessária (como nós, eleitores, imperfeitos, mas necessários).

Contudo, há alguns políticos que desejam mais. Assim que tiverem o poder, tentarão minar os controles que existem sobre suas ambições. Como fazer isso? Com a mais antiga técnica existente na história política da humanidade: a Obsolescência planejada. Funciona assim: ele usa a democracia para se eleger e aos seus aliados. Em seguida, tenta minar a democracia de todas as formas. A primeira forma é tentar vender aos eleitores a imagem de que não pode fazer tudo o que eles querem (novamente: o que eles querem?) porque há, digamos, “trezentos picaretas no Congresso”.

O passo seguinte é tentar minar a atuação dos tais trezentos. Dissemine a compra de votos e depois deixe vir à tona. Isso aumentará mais ainda a imagem de que há, de fato, trezentos picaretas contra alguns outros angelicais políticos. Claro que o leitor dirá que o Congresso é o espelho de seus eleitores, mas é esta imagem, justamente, a que se procura esconder com a primeira parte da Obsolescência planejada da democracia.

Depois (pode ser concomitantemente, claro), tentam minar o Judiciário. Tentam ocupar os cargos com aliados e/ou caluniar os que não concordam com estas práticas. Sempre, eu sei, existirá a imprensa para incomodar. Mas esta pode ser comprada com verbas públicas e sempre há quem se acovarde por um bom preço nas redações de jornais. Caso o político consiga alguns jornalistas incompetentes (do ponto de vista do mercado jornalístico) e ambiciosos, pode até lhes fornecer recursos para que abram jornais e revistas “chapa-branca”.

Pode-se destruir a política econômica que preconiza a competição com baixo desemprego e que busque a também baixa inflação por algo mais desorganizado, confuso, que não seja mais transparente para as pessoas. Eventualmente, empresas estrangeiras (que empregam nossos compatriotas) podem ser expropriadas sob um discurso de que “exploram nossos recursos”. Comprando alguns sindicalistas, isso não será impossível. Mas a democracia continua a ser minada.

O processo pode seguir, desde que existam recursos para comprar pessoas no setor público ou privado. Empresários que ganham “presentes” costumam trocar de lado tão rápido quanto políticos, sindicalistas, jornalistas, etc. Talvez alguém possa dizer, neste ponto, que um país abençoado com extrema abundância de algum recurso natural (como o petróleo) possa financiar esta Obsolescência planejada da democracia. Isso não só é possível, como também pode tomar proporções mundiais, com interferência em eleições de países vizinhos e com a compra de aliados nestes países, criando uma verdadeira quinta coluna para ser utilizada nos momentos certos.

A Obsolescência planejada da democracia tem um único objetivo: sua substituição por algo mais favorável ao ambicioso político e seus aliados. Geralmente é um regime autoritário e/ou totalitário como os que conhecemos. Embora a democracia tenha uma vida útil muito longa (e desejadamente longa, diriam os eleitores que não curtem a concentração de poder), ela é minada e trocada por algo mais adequado aos desejos de poucos.

Do meu humilde ponto de vista, esta Obsolescência merecia uma análise maior em vídeo-documentários e artigos de jornais do que a que supostamente existe em alguns setores econômicos. Não que eu não tenha críticas a algumas práticas de mercado, mas me parece que se há dois problemas de gravidade distintas do ponto de vista social, o mais grave deveria ser atacado primeiro. Não acha?

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Censura

Escritora denuncia o elevado nível de censura que vem de Brasília. Esta é a consequência social do bolivarianismo. Piada política? Não pode. Os nove tentáculos do polvo socialista brasileiro fazem censura velada. Aliados aos empresários rent-seekers, ao cronista cínico tomador de chimarrão, a certos elementos que supostamente representam a Justiça, e a um bando de gente que se diz “do meio cultural”, o Brasil se transforma, aos poucos, em uma imensa Venezu-Cubolívia-do-Norte.

Excelente desabafo da autora. Bateu, inclusive, no pseudo-capital humano que o governo vende como “conquista ‘dessegoverno’ “. Não faltará blogueiro (que deseja uma “bolsa-blog”) para tentar acusá-la de exagero, etc.

Bateu bem, Maria Adelaide.

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O problema é por que o correio é um monopólio?

O presidente da Silva diz que não recebeu nenhuma carta de prisioneiros políticos de Cuba. Sabe, não? Prisioneiro político como ele foi, durante pouco tempo, sob o regime militar.

Fiquei em dúvida. O governo cubano não pode ser culpado porque colunistas de jornal – como um frei popular – sempre dizem que lá é bacana. Pensei que talvez fossem os ativistas políticos, que não existiriam, mas não é o que dizem dezenas de organizações internacionais que sempre são elogiadas pelo presidente e seus amigos. Então, imaginei, só pode ser porque o correio brasileiro é um monopólio.

Pronto, na verdade, o presidente da Silva quer mesmo é privatizar os correios. Ah…eu sempre desconfiei…