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Excelente pergunta do Adolfo

Reproduzo na íntegra:

O Lado Triste da ANPEC e da SBE
O encontro da ANPEC e da SBE, em teoria, reúne os melhores pesquisadores em economia do Brasil. O nível das sessões está bom e melhorando a cada ano (o que confirma alguns estudos sobre os níveis de publicação internacional).

O lado triste do encontro da ANPEC e da SBE fica por parte do silêncio absoluto de vários pesquisadores ortodoxos sobre a taxa de câmbio. Os heterodoxos nadaram de braçada no encontro: sempre havia um deles disposto a defender algum mecanismo de ajustamento do preço do câmbio (claro que nenhum deles sugere o óbvio: abrir o mercado).

Digo que isso é triste, pois mostra uma falta de força, ou de vontade, de intervir no debate nacional num momento crítico. O conhecimento traz consigo responsabilidades, e os ortodoxos brasileiros estão se esquivando desse debate. Uma pena, pois cedo ou tarde o preço disso irá aparecer.

Gostaria de fazer um pedido aos alunos da EPGE e da PUC-RJ, no papel os centros mais ortodoxos do Brasil, para que cobrem participação de seus professores. Claro que para alguns professores da PUC-RJ é díficil pedir pela liberação do câmbio (uma vez que boa parte deles são contrários a isso). Mas as escolas devem ser consistentes com o que ensinam: se você ensina que preços devem ser flexíveis, então deve ensinar também que o câmbio deve ser flexível.

Câmbio é preço e do ponto de vista ortodoxo preços devem ser flexíveis. Se o câmbio está valorizado isso decorre de impedirmos que as importações aumentem (ou de estarmos estimulando artificialmente as exportações). A solução para o dilema cambial é simples: abertura comercial.

Eu entendo a UFRJ, a UNICAMP e mesmo alguns professores da UnB irem contra essa idéia. Afinal, como heterodoxos eles tem outro modelo em mente. Contudo, é difícil ser contra a liberação da taxa de câmbio sendo ortodoxo. Essa é uma contradição razoável.

O Adolfo tem um ponto interessante que me faz pensar sobre que tipo de incentivo alguns ortodoxos seguem para se portarem como postes ou árvores (geralmente frondosas, quando falam de si mesmos) diante da economia brasileira. Será simplesmente o olímpico desprezo pela realidade em prol da abstração? Ou os fundos públicos falam mais alto? Ou, claro, há outra hipótese para se explicar isto?

8 comentários em “Excelente pergunta do Adolfo

  1. Nem “favorecimento da abstração”, nem “prazer pelos fundos públicos”, Shikida: é falta de arcabouço teórico, mesmo. Explico mais no blog.

    Abraços!

  2. Grande Shikida,

    Realmente esta na hora dos ortodoxos das universidades de mais prestígio no Brasil deixaram claro suas opiniões sobre o câmbio e outros assuntos polêmicos.

    Adolfo

  3. Caro Cláudio,

    Na minha opinião, a razão pela qual impera o silêncio na ANPEC e SBE entre economistas ortodoxos bem treinados (Na verdade, a expressão deve ser melhor treinados, uma vez que o conjunto de economistas bem-treinados é próximo de unitário (me incluo no complemento de tal conjunto)) é que, em média, eles não vão à SBE e ANPEC, pois o encontro não é dos melhores…

    Em segundo lugar, a referência a fundos públicos é um pouco pesada. Meus colegas macroeconomistas (e aposto que o pessoal de Botafogo também… seu blog é muito lido)ficaram bastante chateados com a sugestão.

    Em terceiro lugar, como uma curiosidade, achei o texto abaixo sobre a posição do Friedman a respeito de taxa de câmbio em países mais subdesenvolvidos. Por ser um completo apedeuta no assunto, não sei se faz sentido, mas é curioso.

    Um abraço,

    vnc

    An advocate of fixed exchange rates for developing countries. In the 1960s, Friedman turned his attention toward monetary problems in developing countries, where inflation and exchange controls were pervasive. For many of these countries, Friedman was skeptical about floating exchange rates because he mistrusted their central banks and doubted their ability to adopt a rule-based internal anchor (such as a money-supply growth rule). To rid developing countries of exchange controls, his free-market elixir was the fixed exchange rate (an external anchor).

    The surest way to avoid using inflation as a deliberate method of taxation is to unify the country’s currency [via a fixed exchange rate] with the currency of some other country or countries. In this case, the country would not have any monetary policy of its own. It would, as it were, tie its monetary policy to the kite of the monetary policy of another country—preferably a more developed, larger, and relatively stable country.9

    In many cases, he advocated fixed exchange rates rather than floating. For example, in response to a question during his Horowitz lecture of 1972 in Israel, Friedman concluded:

    The great advantage of a unified currency [fixed exchange rate] is that it limits the possibility of governmental intervention. The reason why I regard a floating rate as second best for such a country is because it leaves a much larger scope for governmental intervention … I would say you should have a unified currency as the best solution, with a floating rate as a second-best solution and a pegged rate as very much worse than either.

    Friedman was clear and unwavering in his prescription for developing countries:

    For most such countries, I believe the best policy would be to eschew the revenue from money creation, to unify its currency with the currency of a large, relatively stable developed country with which it has close economic relations, and to impose no barriers to the movement of money or prices, wages, or interest rates. Such a policy requires not having a central bank.”10

    Friedman clearly favored both floating and fixed exchange-rate regimes in principle. However, as a matter of practice, for most developing countries he favored fixed over floating rates.11 Yet most economists and financial journalists believe that he espoused floating rates as the sole solution. Friedman’s real position was that an exchange rate driven by a free market was best, and that both fixed and floating exchange rates had equal claims to be considered market-determined.

    1. Oi Vinicius, valeu pelo comentário. É bom saber que o ibope aqui é de qualidade, mas o povo ficar chateado porque a gente pensa que pessoas – inclusive economistas – respondem a incentivos é até irônico, não?

      Esta coisa da ANPEC e SBE: ok, digamos que os encontros são ruins como você diz (eu fico confortável, pois não os frequento há alguns anos, rs). Se são os únicos eventos nacionais da área, então o que você disse deve ter deixado os mesmos leitores um pouco chateados.

      Bem, de qualquer forma o velho Friedman nunca veio a nenhum destes encontros, não tinha blog e, bem, deu assessoria privada para o governo chinês e o chileno. 🙂

  4. Fala, Cláudio.

    Não sei se é de qualidade, mas o IBope do Blog (por ser, ele sim, de alta qualidade) é altíssimo. V. sabe disso.

    Todos sabemos que os agentes respondem a incentivos. A emnção complicada é a de fundos públicos (que pode ser interpretada como: esses caras estão se locupletando e calam por isso… Responder a incentivos e se locupletar são coisas diferentes).

    Quanto ao velho Milton, o ponto dele, pelo que netendi, era de que o câmbio fixo serviria como um dispositivo de comprometimento. COm o câmbio fixo, não é possível se fazer política monetária (naquela época isso era equivalente a se pensar em aumentar a emissão de moeda) ativa. O ponto É bastante diferente do que se discute hoje (defesa da indústria e baboseiras do gênero), mas levanta um ponto que acho relevante: etiquetas heterodoxos vs. ortodoxos não devem nos privar de pensar qual é resposta econômica mais razoável para um problema específico. Uma das maiores referências intelectuais liberais que houve, Friedman, defendeu, sob algums condições, que o câmbio fosse fixo por razões econômicas bastante razoáveis!

    Um abraço,

  5. Me esqueci de responder ao seu ponto sobre ANPEC e SBE. Há uma medida óbvia para se avaliar a qualidade dos encontros. Depois de, digamos, cinco anos de apresentados, onde são publicados os papers apresentados no Encontro?. Resposta: em sua maioria, não são poublicados. Os que são publicados, o são em revistas nacionais ou periódicos internacionais de quinta linha. Só há esses encontros no Brasil, mas há uma miríade de encontros internacionais. Ao invés de (potencialmente) ficarem chateados, os particpantes podem começar a submeter seus trabalhos para bons congressos internacionais (os da Econometric Society, AEA, Society for Economic Dynamics, Game Theory Society). A solução para a qualidade da pesquisa no Brasil é competição internacional de fato. Quando começarmos a competirmos no mesmo nível que ITAM, DiTella e outras escolas de países comparáveis ao Brasil (note que nem chego a mencionar os EUA), as coisas melhorarão. Fingir que fazemos pesquisa decente e que nossos encontros estão melhorando é auto-engano.

    De fato, me parece claro que as coisas NÃO estão melhorando no Brasil. Vide os critérios da Capes (e aí, sim, as pessoas respondem a incentivos. Há economistas decentes no país que, entre começar um projeto mais substancial com objetivo de se publicar num bom journal ou fazer qualquer coisa e submeter para um journal de merda, prefere a segunda opção, uma vez que 1 Aer vale menos que Dois “Obscure Journal of Whatever”. O pare do Walter Novaes sobre qualidade Vs. quantidade ampara esse ponto com os dados de nossos pesquisadores). Repito: a solução para a academia no Brasil exige que olhemos (e nos subtamos à avaliação de) fora. Mais: journals e congressos decentes, não versões em inglês do que temos aqui. O resto é auto-engano, ou, como diria nosso maior herói, o sem caráter (não confundir com mau caráter), ‘Muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil, são”.

  6. Caro Claudio,

    A verba publica eh parte da historia, sim, eu acredito.

    Outro fator eh que se o economista serio, digamos, na escola A, comecar a comprar briga com os picaretas na mesma escola, vai ser mais dificil para ele contratar outros economistas serios para sua escola.

    O que fazer quanto a isso? Eu tento dar minha contribuicao no blog do Alex.

    1. parece que os economistas sérios terão que sacrificar um pouco da pesquisa no curto prazo para que possam sobreviver no longo prazo. Um pouco de jogo de poder, talvez?

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