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Gustavo Franco na faculdade

Inscrições abertas (veja o link a seguir). Iniciativa do DCE que apóio. Caso você não conheça o Gustavo Franco (acho difícil, mas vamos lá), eis um perfil dele na Wikipedia e eis um artigo acadêmico antigo dele aplicando a causalidade de Granger-Sims a dados macroeconômicos históricos do Brasil. Sua página pessoal está aqui.

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Como entender as diferenças entre as duas equipes econômicas ligadas à oposição?

Este vídeo parece promissor nisto. Honestamente, fico com Gustavo Franco. Mas concordo que ambos representam políticas econômicas (portanto sociais, mesmo que você não goste de ouvir desta forma) infinitamente melhores do que as que vejo entre os representantes do status quo.

p.s. o Roberto DaMatta é um show à parte. Não sou nada perto de um especialista em antropologia, mas gostei do que ouvi (notadamente sobre a origem dos jornais no Brasil).

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Entendeu, …ecil?

“Acho muito ruim a ideia de que o governo possa intimidar empresas privadas, sobretudo essas que precisam se expressar diante de seus clientes. O governo tem opinião, instituições financeiras têm opinião, os jornais e revistas têm opinião. E isso é uma democracia, todo mundo tem o direito de expressar sua opinião. Essa opinião em particular não era polêmica a ponto de despertar essa confusão”, disse Franco, que participou do evento “Vinte Anos Depois do Real: O Debate sobre o Futuro do Brasil”, realizado na Casa do Saber, no Rio.

Preciso explicar?

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Y = C + I + G – T + X – M…e pronto!

Não tem jeito. Relações contábeis são relações contábeis. Quando acrescentamos às mesmas relações comportamentais, institucionais e tecnológicas, temos um modelo econômico. Claro, o modelo pode ser baseado em hipóteses as mais diversas. Entretanto, é bom levar em conta o que diz a realidade e a mesma nos diz que é difícil ver heterodoxo lambendo ou queimando dólares.

Bom, então estamos todos mais ou menos acordados: pessoas são racionais. Como se formula esta racionalidade é outra história. Também é outra história falar sobre como a racionalidade pode não ser sinônimo de equilíbrio em pleno emprego (basta microfundamentarmos uma rigidez aqui ou ali e pronto).

O prof. Franco publicou um artigo hoje, muito bom, sobre a nossa economia. Caso você não tenha percebido, este texto é a maior oportunidade para você terminar seu final de semana com um pouco mais de emoção do que o normal (quem aguenta estes programas de TV no domingo?). Talvez não seja o melhor momento para se estudar Economia, mas pegue um caderno e um lápis aí e veja como são as coisas.

1. A aritmética intertemporal e o efeito Barro-Ricardo:

O crescimento do endividamento familiar nos últimos anos trouxe preocupações com essa psicologia do “aqui-agora”, que pode ser associada ao consumidor de baixa renda, carente em educação financeira, incentivado a comprar e que facilmente se enreda em endividamento excessivo.

A má notícia é que nossas autoridades operam exatamente com a mesma lógica: desde que possam parcelar, qualquer dívida é aceitável.

A teoria econômica ensina que, se as finanças públicas são sustentáveis, a dívida de hoje são os impostos de amanhã e não há como escapar disso, ao menos em um país onde os governos não podem deixar bombas para os seus sucessores.

Ótimo ponto para você recordar a maravilhosa função consumo! Sabemos que as decisões importantes são mesmo intertemporais. Pelo menos para quem não tem restrições (ativas) sobre a restrição orçamentária. Mais ainda, sabemos que o governo não pode terminar dando o calote, logo, o efeito ricardiano é, sim, uma constante na vida das pessoas. Você pode não ser totalmente ricardiano, mas não é idiota (creio eu) de achar que não precisa pagar a conta no futuro. Claro, podemos falar de herança, altruísmo, mas, eis a má notícia: o governo (“nossas autoridades”) parece, ele sim, sofrer algum tipo de falha (falha de governo).

Bom, não que seja uma “falha” no sentido de que o governo está com defeito. Na verdade, a “falha” diz respeito ao fato de que o governo parece curtir (na linguagem facebookiana) a vida perigosa de endividamento. Ou porque segue um maligno ciclo político-econômico (“vou espantar a oposição na eleição com este estado calamitoso das contas públicas”), ou é ideologicamente um gastador (viva Stalin!), ou, enfim, é péssimo administrador. Obviamente, pode haver uma combinação convexa destas três hipóteses para nos explicar o comportamento do governo, mas isto fica a seu critério julgar.

2. Conta Corrente, sim, ela mesma:

A posição líquida é credora (US$ 260 bilhões) e maior que a dívida externa do setor privado (US$ 171 bilhões).

É uma situação inédita para nós e se deve à brutal acumulação de reservas, a qual, todavia, não tem propriamente a ver com superávits comerciais ou à nossa competitividade, mas com entradas de capital relacionadas à política monetária americana. Pouco importa, os efeitos são conhecidos, o BC vende dívida interna para arrumar os recursos para comprar esses dólares excedentes, ou seja, troca dívida externa por interna ao acumular reservas.

Ok, você estudou aqueles capítulos do livro que falavam da Conta Corrente, juros e câmbio, não? Veja aí a história de novo, apimentada com a atuação do Banco Central. O interessante é que a análise aqui inclui o resto do mundo (no caso, a “economia grande”, os EUA), que incentiva nossa acumulação de reservas. Aritmeticamente, nada demais. Entretanto, Economia não é Aritmética e o prof. Franco está correto em destacar o mecanismo de transmissão da política monetária norte-americana sobre nossa acumulação de reservas. No final da história, aquela história de “dívida externa e dívida interna” volta à discussão.

3. A negação da realidade:

Outro problema é que o conceito internacionalmente aceito é o de “dívida bruta” que, na metodologia do governo, está em 59% do PIB (incluindo as operetas com o BNDES), um número já não muito consistente com a classificação de risco soberano do país. Os especialistas preferem olhar para a dívida bruta, entre outras razões, porque não há como usar os dólares das reservas para pagar a dívida interna.

Mais outro problema é que as normas internacionalmente aceitas de contabilidade indicam que a nossa dívida bruta é maior: 68% do PIB. O ministro da Fazenda insiste em discordar do FMI nesse assunto, o que é mais ou menos como uma empresa listada questionar uma diretriz internacional de contabilidade.

(…)
Coisa parecida se passa no setor elétrico, onde parte significativa dos custos da “redução na conta de luz” ficou para o Tesouro. E também nos bancos públicos, toda vez que o crédito não é concedido de acordo com as melhores práticas bancárias ou os bancos são instruídos a apoiar “campeões”. Não há dúvida que os custos de muitas políticas públicas, cujo mérito sempre se pode discutir, ainda não foram contabilizados na dívida pública.

Aqui um tópico novo, que não aparece em livros-texto de Economia por um motivo óbvio: não faz sentido. Que tópico é este? Ora, ora, o ignorar da contabilidade. Não há o que conversar se o governo brasileiro desrespeita o sistema cartesiano ao fazer gráficos, as propriedades dos números reais ao fazer somas e a contabilidade ao…contabilizar seu déficit. Qualquer economista – até um heterodoxo sério – é incapaz de começar a trabalhar falsificando os números. Uma coisa é criar uma nova medida para o déficit, digamos: A + B – C. Outra é dizer que, agora, A é déficit, B é mais ou menos e C, que não existia, é parte do déficit.

Obviamente o tópico nos remete à questão da credibilidade do governo. Caso você ache que não faz sentido microfundamentar a macroeconomia, pare de ler aqui e vá tomar um suco. Mas se você acha que indivíduos importam quando falamos de credibilidade, então não adianta tapar o sol com a peneira: estamos vendo a destruição da credibilidade do setor público brasileiro pelo lado fiscal. Não é nada diferente das travessuras dos governos bolivarianos neste aspecto. O que é realmente engraçado é o silêncio dos contadores. Alguém aplique, por favor, uma prova do ENADE de Contabilidade para estes caras, antes que eles mudem até a lei da gravidade no Brasil.

4. Conclusão:

Bom, a conclusão aqui é minha (vai lá e leia o artigo, ora bolas). O texto fala de vários conceitos importantes: escolha intertemporal, efeito ricardiano, ciclos político-econômicos, conta corrente em uma economia com governo, credibilidade e reputação, enfim, tudo o que o sujeito já leu se fez um curso de Macroeconomia (ou 80 a 90% dele, eu diria). Não está lá citado o sistema de metas de inflação (se é que este moribundo ainda sobrevive…), mas não é difícil pensar nos problemas que a política monetária enfrenta com a política fiscal adotada por este governo que, não se engane, conseguiu chegar em ano de eleição (já estamos quase lá, certo?) em uma situação na qual terá contra si próprio (e por sua exclusiva culpa) uma inflação alta (não se engane com o “repetir a mentira a transforma em verdade” do governo sobre o teto da meta ser o centro da mesma) e, possivelmente, desemprego.

Gustavo Franco (o citado prof. Franco) resumiu bem o problema. Ou melhor, o tamanho do problema. Imagine o tamanho da solução…

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As origens do Banco Central do Brasil e do FED: duas histórias de grupos de interesses…

Gustavo Franco tem um breve, mas importante, artigo sobre as origens políticas do Banco Central Brasileiro. Creio que complementa muito do que se lê por aí sobre a famosa relação “incestuosa” do Banco do Brasil com a autoridade monetária e, claro, a famosa Sumoc.

Ok, este é um tema que merece um trabalho monográfico.

Em nível internacional, há também um recente trabalho que merece citação. Trata-se de indagação similar, mas relativa ao FED. De autoria de Tomas Otahal, o artigo usa a Escolha Pública como fundamento teórico para reinterpretar a origem da mais poderosa autoridade monetária de nossos tempos.

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Political arguments crowd out serious economic arguments

Eis um artigo de Bruno Frey que vai ao limite do debate sobre o que é a ciência econômica e qual sua relevância no mundo.

Frey é um sujeito cheio de insights, logo, vale a pena ler seus textos. Entretanto, este dá pano para manga para brigas com quem não leu (ou leu, mas não conseguiu entender) o que ele tem escrito nos últimos anos. Logo, cuidado na leitura. Frey não vive em um ambiente como o brasileiro no qual o nível do debate se revela na estranha mudança do grau de exigência, fartamente debatido na blogosfera, do último concurso do IPEA (por exemplo, aqui, aqui, aqui e aqui).

Esqueça, por enquanto, suas preferências ideológicas. A relevância da economia deve ser sujeita ao confronto com a realidade, seja na forma de teste de hipóteses numa abordagem mais tradicional (Friedman), ou sob a forma de estudos específicos (Coase) ou, ainda, no formato de algum tipo de simulação como curte o pessoal – hoje – de DSGE

Será mesmo? O argumento de Frey toca nestes pontos sensíveis. Por exemplo, muitos usam o discurso econômico apenas para maximizar a chance de obter um favor político, sem tanta preocupação com o cálculo do custo e do benefício de sua proposta para a sociedade. Isto já foi apontado, para o Brasil, pelo velho Bulhões e tem sido reiterado por alguns críticos recentes (como Pedro Cavalcanti, em sua querela com os defensores da política industrial a qualquer custo). Neste sentido, argumentos políticos geralmente expulsam/diminuem a influência (mas não a importância) dos argumentos econômicos, como eu disse no título, traduzindo uma frase citada no texto original de Frey (um exemplo seria, talvez, este).

Diga-se de passagem, este trecho do texto de Frey resume muito do que eu penso ocorrer no Brasil:

The demand for economists is partly produced by the economics profession itself. Economic theories favouring government intervention increase the demand for economists in public advisory boards and within the public administration. According to Friedman (1986, pp. 8–9), one reason why Keynesian theory became accepted so quickly was that “. . . it opened up such wonderful opportunities for employment and influence by economists . . . the New Deal was the greatest employment programme for economists that ever existed“. In the 80s, the policy of privatisation and deregulation also increased the demand for economists in the private sector.

A citação é boa: ela mostra que há incentivos para que economistas se afastem das proposições positivas e se aproximarem das normativas não por conta de algum apelo vagamente preocupado com a sociedade e o mundo real, como querem alguns, mas apenas por interesse próprio. 

Assim, veja bem, devemos estudar o processo de produção acadêmica. Embora muitos colegas não-economistas concordem comigo, é difícil encontrar algum que se submeta a uma investigação dentro de sua própria área. Touché! Sabemos que o telhado de vidro de médicos, biólogos, físicos, sociólogos, etc etc etc, é tanto quanto ou mais frágil que o nosso. Aliás, este é um dos motivos pelos quais eu gosto da Ciência Econômica: há a possibilidade de uma investigação científica sobre a honestidade de nossos próprios membros. Gera alguma bronca? Claro, mas a compreensão da realidade não avança sem que se pise em patas de ruminantes ou mesmo que se enfrente mamutes…

No Brasil, o debate econômico tem uma dimensão interessante gerada, penso eu, em algum momento do nossa vida sob o padrão-ouro. Em algum ponto daquela época (trata-se de um simples palpite a escolha do final do século XIX, mas há algo aí…creio), o debate se tornou uma bravata ideológica contra a teoria econômica que resultaria em discussões pouco elaboradas com um ou outro insight interessante.

A construção da Ciência Econômica no Brasil tem lá seus aspectos ideológicos, mas também tem seu elemento de capital humano (veja meu post imediatamente anterior a este). Ou seja, enquanto a criação da formação universitária em nossa área prosperou no mundo e gerou externalidades positivas, aqui a dificuldade de suplantar os discursos vazios, mas de bela retórica, parece ter sido uma barreira importante à construção do pensamento econômico baseado em uma forte análise da realidade brasileira. Penso, por exemplo, na imensa diferença de qualidade entre o debate econômico na imprensa/blogosfera brasileira e na de qualquer país desenvolvido.

É quase inevitável não lembrar dos apelos representados pelo currículo proposto por Gudin para o curso e as queixas de Mircea Buescu contra as interpretações econômicas de nossa história que, propositalmente ou não, ignoravam a simples análise estatística dos dados (já citei isto antes, várias vezes, aqui): economistas –  tal como entendo o termo – no Brasil dos anos 50 lutavam para que seus colegas, ao menos, estudassem estatística! Nossa história econômica, digo, nossa historiografia econômica, por exemplo, poderia ser infinitamente melhor se as pessoas não lessem Celso Furtado de joelhos, em frente ao altar, mas sim com a mesma atitude crítica que um estudante tem ao estudar qualquer autor, qualquer teoria ou qualquer coisa.

Entender a produção acadêmica e sua relação com os grupos de interesse é um projeto de pesquisa interessante para os próximos anos. Não para os EUA ou para a Inglaterra, mas para o Brasil. Faz parte da compreensão da história de nossa ciência no país e também, claro, de sua relevância para a economia atual. Até que ponto geramos mais benefícios do que custos é uma questão em aberto. 

Amontoado de textos sobre o tema e/ou quase sobre o tema: este, do Gustavo Franco. Sobre a pesquisa econômica no Brasil, este do Walter Novaes e este, de alguns autores mais ou menos conhecidos aqui sob a aba: “Economic Incentives in Academy”. Se alguém se lembrar de algum outro, por favor, use os comentários abaixo.

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Machado de Assis e o debate estranho

Reproduzo aqui uma lista de links interessantes de Gustavo Franco sobre um estranho debate e sobre uma entrevista que um jornal de São Paulo não quis publicar.


TEMAS MACHADIANOS

Curiosa matéria na Folha buscando ângulos ideológicos nas leituras de Machado de Assis, de Rafael Cariello e Sylvia Colombo Economistas liberais reinvidicam Machado (Gustavo Franco defende que escritor fez críticas ao capitalismo manco brasileiro; para Giannetti, leitura à esquerda é reducionista) (FSP, 22.11.08). Veja a íntegra da entrevista concedida ao jornalista, e que não foi publicada.

Machado comunista (FSP, 06.09.08). Veja uma manifestação de leitor de esquerda, e respectiva resposta.

Maldades que fizemos com Machado de Assis (FSP, 04.10.08). Veja a imagem da cédula que “humilha” Machado de Assis com um carimbo que lhe subtrai 3 zeros.