A Academia é um local fascinante porque é como a vida da gente. Assim, a ‘fascinação’ é uma mistura nem sempre trivial de frustração, alegria, vaidade(s) e esforço. Os Congressos da AMDE são uma oportunidade única de se vivenciar a melhor parte disto tudo. Por que?
Porque tem Economia e Direito interagindo. Isto significa que há temos desconhecidos para ambos e isto ajuda a quebrar vaidades. Alguns não suportam isto, fogem e não voltam. Ainda bem. Outros gostam, curtem e se superam. Ainda bem também.
Obviamente, como lembrou a Luciana Yeung na palestra do final da manhã de ontem, há tensões como as de economistas que não gostam de análises quantitativas que não envolvam a mais sofisticada econometria. Há que se debater, claro, o que seria a mais sofisticada dita cuja, mas há análises em que não é possível, por limitações dos dados, aplicar-se o último estimador inventado.
O contato com o Direito, inclusive, traz esta premência da realidade: não podemos esperar para sempre e, portanto, pesquisa aplicada é sempre incompleta porque sempre em um momento desta escalada rumo à menor imperfeição possível. É a vida e, como eu disse, a vida é um interessante amálgama – segundo alguns, uma orgia com Códigos de Hamurabi fálicos e big data abundantes, mas voltemos ao tema – que sempre vejo vivo em congressos acadêmicos.
Ronald Hillbrecht me lembra de alguém, acho que o falecido Coase, que dizia que o mais interessante da Ciência Econômica tem sido desenvolvido fora dos departamentos de Economia. Eu discordo parcialmente, mas vejo muitas evidências disto quando vejo os trabalhos apresentados nos grupos de trabalho destes congressos. Tem muita coisa preliminar – e me incomoda a demora com que o preliminar ainda é preliminar – mas o importante é que o bom vírus do progresso científico contaminou alguns profissionais do Direito e alguns economistas.
O Congresso, desta vez, não foi abraçado por muita gente. A divulgação foi precária? Não sei. Mas a tal juventude, que tanto dizem ser interessada em interdisciplinaridade ou em pesquisas não compareceu. Tal como o “gigante que despertou em 2013 e sumiu em 2014”, muita gente não apareceu para se divertir. Nem todos são interessados no tema, claro e nem tudo que há em Congressos assim é do interesse. Mas, como já disse em outras ocasiões, só melhoramos a qualidade do ensino – e do aprendizado – quando nos deparamos humildemente com o que nos é, até então, desconhecido.
Em alguma palestra, acho que a do Ivo, ele perguntou quantos faziam Economia. Levantei o braço. Depois ele perguntou quantos estavam perdidos. Levantei de novo. Claro, ele exclamou: “- Você é um economista e está perdido”. Pouca gente entendeu exatamente a piada. Ou melhor, muita gente entendeu a parte superficial da piada mas eu e ele e mais alguns entendemos o significado sutil da minha auto-ironia: estou sempre perdido porque sempre estudando e tentando aprender. Não é assim que estamos todos?
Até o ano que vem.